PUBLICADO EM 22 de dez de 2017
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DJs brasileiros ganham destaque em festivais no País

Nova geração quebra barreira de popularidade e atinge paradas mundiais e fecha o ano com destaque nos grandes festivais no país; Gabriel Boni é um dos DJs brasileiros que estão tomando o lugar das atrações estrangeiras nos festivais nacionais

Foto: Divulgação

Não é de hoje que produtores brasileiros vêm se infiltrando nas paradas mundiais de sucessos da música eletrônica dançante dominadas por gigantes como David Guetta (francês), Avicii (sueco) e Chainsmokers (americanos). A novidade neste ano que termina é que nomes como Alok, Vintage Culture, Bruno Martini, Cat Dealers, Illusionize e Gabriel Boni também se tornaram DJs-espetáculo disputados pelos grandes festivais no Brasil — inclusive aqueles puxados pela música sertaneja, ficando pau a pau com as estrelas do segmento.

— Só não toquei ainda no Acre — conta o sul-mato-grossense Lukas Ruiz Hespanhol, mais conhecido como Vintage Culture, do hit internacional “Wild kidz”, que, como DJ, fechou mês passado o Festival de Verão de Salvador.

Autora do livro “Todo DJ já sambou: a história do disc-jóquei no Brasil” (reeditado este ano, com capítulo falando da ascensão dos novos nomes), a jornalista Claudia Assef reconhece as mudanças na cena:

— Este foi um ano emblemático não só para os DJs, mas para a música. Eles, que antes eram só encheção de linguiça dos grandes festivais, tornaram-se atrações populares, vendedores de ingressos.

Em 2017, foi impossível escapar do nome Alok (Alok Achkar Peres Petrillo): goiano de 26 anos, filho de DJs, e primeiro artista brasileiro a entrar na lista dos 50 artistas mais ouvidos do mundo do Spotify (com “Hear me now”, parceria com Zeeba e Bruno Martini, lançada em outubro de 2016). Eleito este ano o 19° melhor DJ do mundo pela bíblia britânica da dance music, a revista “DJ Mag”, ele fez brilhar ainda mais o seu 2017 com uma inédita turnê pala China, matéria de capa de revista de celebridades e canja no casamento da estrela global Marina Ruy Barbosa. Alok vira o ano como uma das atrações principais do Réveillon Colosso (em Forteleza, com as duplas sertanejas Simone & Simaria e Matheus & Kauan) e promete revelar em 2018 uma parceria com Anitta.

— A música eletrônica não tem barreiras. Ela une todas as tribos e há renovação constante. Hoje vemos ela com funk, sertanejo e inclusive arrocha. Recentemente lancei uma música com Matheus & Kauan, “Villa Mix (suave)”, que teve uma aceitação muito boa, o que nos deixou extremamente satisfeitos — conta, por e-mail, o DJ goiano, que recebeu críticas recentemente pela versão que fez de “Pelados em Santos”, dos Mamonas Assassinas (o produtor da música original, Rick Bonadio, disse que a mudança de harmonia deixou tudo “péssimo”, mas isso não atrapalhou em nada o sucesso da faixa).

Já para Vintage Culture, de 24 anos, a lembrança de 2017 será a das consagradoras participações no Lollapalooza (em São Paulo) e no Rock in Rio, tocando para mais de 30 mil pessoas, no encerramento do festival. Ali, ele deixava de ser só o produtor que um dia jogou músicas na internet para ver aonde elas iam (“Elas chegaram ao Egito, à França e saí surgiram as propostas para ir tocar”, conta) e virou um superstar DJ, com sua própria produção.

— Existe uma música eletrônica made in Brazil que é uma mistura de muitas influências. O brasileiro tem esse ritmo dançante mais à flor da pele, os DJs de fora são mais duros, mais comercialmente formatados. Não preciso seguir nenhuma fórmula — resume ele, que depois do carnaval vai para o México, Europa e Ásia (mas sempre voltando ao Brasil, em intervalos) e que espera apresentar-se em junho na Copa do Mundo da Rússia.

Paulistano, 25 anos, filho do guitarrista do grupo Double You (dupla italiana de dance music que fez sucesso no Brasil nos anos 1990), Bruno Martini conheceu o showbiz estrangeiro cedo — na adolescência, foi contatado pela Disney como cantor. Mas nada foi como quando ele, já fazendo música eletrônica, juntou-se a Alok em “Hear me now”. Hoje, Bruno tem mais hits: “Never let me go”, “Living on the outside”, “Sun goes down” e “Road”, uma parceria com o midas hip hop americano Timbaland, que foi ouvida oito milhões de vezes em apenas sete semanas.

— Era para eu ficar dois dias com o Timbaland em Los Angeles, acabei ficando cinco e fizemos 12 músicas — gaba-se ele, que em 2017 tocou para mais de 100 mil pessoas no México e participou de festivais até na Noruega. — Spotify, Apple Music, Deezer… é tudo muito maluco. As plataformas de streaming abriram o caminho para o mundo, hoje você pode entrar no Top 50 da Rússia!

Em janeiro, Bruno lança uma outra música com Zeeba (“With me”, que traz mensagens motivacionais para quem enfrenta um câncer) e outra com o DJ Dennis, estrela fo funk carioca. Antes disso, toca no réveillon de Arraial D’Ajuda, em Porto Seguro — contando sempre com as versões especiais que prepara de suas próprias músicas (e que os outros DJs, claro, não têm). Exclusividade é algo muito importante, como sabe a dupla carioca Cat Dealers, que começou a carreira fazendo uma recriação quase irreconhecível do hit “Your body”, do alemão Tom Novy.

— Hoje em dia não dá para ser só DJ, ter suas próprias músicas é fundamental. E o show tem que ser uma superprodução — ensina Pedro Henrique Cardoso, 26, que montou a dupla com o irmão Luiz Guilherme, de 20.

Posicionados este ano no 74° lugar do Top 100 de DJs da “DJ Mag”, os Cat Dealers saborearam o sucesso internacional com as faixas “Gravity”, “Sober” e “Sunshine”, apresentaram-se em festivais no México e África do Sul, passaram no Brasil pelo Ultra Music Festival e Rock in Rio e estarão no Lollapalooza 2018, em São Paulo, junto com Alok. Além disso, esquentaram as noites de clubes como o Green Valley (em Balneário Camboriú, SC) e Laroc (em Valinhos, SP).

— O Brasil é um continente, a gente investe muito em cidades que não só Rio e São Paulo — diz Luís Guilherme. — Na era digital, o show virou algo muito importante para a receita, mas o direito autoral dá algum dinheiro, sim, apesar dos nossos custos de marketing.

Para Claudia Assef, muito desse fenômeno de popularidade dos novos DJs tem a ver com “a alta do dólar que inviabilzou muitos festivais e fez com que estrelas como David Guetta viessem menos ao país”:

— Os brasileiros agarraram essa oportunidade e viram que poderiam fazer tão bem quanto os estrangeiros.

E outros nomes não param de disputar destaque na cena. Goiano que trabalhava em uma lan house, Pedro Mendes hoje é Illusionize, DJ que corre o país e que já tocou nas edições nacionais do Lollapalooza, Tomorrowland e Ultra. Gabriel Boni (que se apresentou no último Rock in Rio) é outro que atrai grande público nos festivais, abrindo caminho para DJs como Bhaskar, irmão de Alok, que é hoje é a grande aposta do Austra, selo de música eletrônica da Som Livre.

— Meu irmão já construiu sua própria carreira. Em qualquer lugar há espaço para todos. Queremos levar o nome do Brasil o mais longe possível com nossa música — prega Alok.

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