Por Marcos Aurélio Ruy
Após a jornalista Eliane Brum denunciar o encontro secreto de representantes do governo de Joe Biden com integrantes do desgoverno de Jair Bolonaro, no El País Brasil, às vésperas da Cúpula dos Líderes sobre o Clima, que começa nesta quinta-feira (22), no âmbito virtual por causa da pandemia do coronavírus, inúmeras entidades, artistas, ambientalistas, enfim todas as pessoas realmente preocupadas com o meio ambiente e com a democracia fizeram documentos para serem entregues ao presidente dos Estados Unidos, denunciando os atos atrozes de Bolsonaro.
Como se esperava, o discurso do presidente brasileiro diz que vai frear a devastação das florestas do país até 2050 e diz estar aberto à “cooperação internacional”. Isso significa que “o governo brasileiro busca dinheiro para fazer o que nunca fez na Amazônia e em nenhuma região do Brasil”, argumenta Rosmarí Malheiros, secretária de Meio Ambiente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
Todos apelam para o governo estadunidense não cair no canto da sereia do desgoverno brasileiro, que promete combater a degradação da maior floresta tropical do mundo, a Amazônia. “Quem confia em Bolsonaro?”, pergunta Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da CTB.
Na terça-feira (20), o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) mostra a realidade de um Ministério do Meio Ambiente, com Ricardo Salles na direção, “trabalhando contra a preservação ambiental ao favorecer o desmatamento, a grilagem de terras indígenas, as queimadas e contra a agricultura familiar, sempre a favor de grandes grupos que trabalham ilegalmente, sem compromisso com a natureza e com o país”, reforça Vânia.
Como mostra o Boletim do Desmatamento da Amazônia Legal do Imazon, foram desmatados 810 km² da floresta em março de 2021. Os dados foram obtidos via satélite e apontam para um crescimento de 216% de desmatamento na região em um ano.
“Isso comprova a falta de compromisso do desgoverno Bolsonaro com o meio ambiente, com os povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas”, afirma Rosmarí.
Veja o boletim completo aqui.
Ela destaca um levantamento da Agência Pública apontando para 114 fazendas certificadas em terras indígenas não homologadas no ano passado, ocupando mais de 250 mil hectares (1 hectare equivale a 10 mil metros) em áreas de povos indígenas.
“Com a política ambiental de Bolsonaro todos perdem. Os indígenas, os quilombolas, os camponeses, o país”, argumenta Rosmarí. “Ganham somente os especuladores e os latifundiários”, mas é “um ganho temporário porque com a destruição da natureza todo mundo perde”, ressalta.
O boletim do Imazon aponta ainda o percentual de desmatamento por estado. O Pará desmatou 35% do seu território de floresta, o Mato Grosso 25%, o Amazonas 12%, Rondônia 11%, Roraima 8%, Maranhão 6%, Acre 2% e Tocantins 1%.
“Todos os estudos feitos mostram o crescimento vertiginoso da destruição ambiental no país, do crescimento da fome, do desemprego e da falta de vacinas contra a covid e do desmantelamento das políticas públicas em favor do combate às desigualdades”, afirma Vânia.
Rosmarí lembra que “quando assumiu, Bolsonaro disse que em seu governo não haveria nenhuma demarcação de terras indígenas”, além “de beneficiar os grandes proprietários de terras e cortar subsídios da agricultura familiar”.
Para ela, “as queimadas e o desmatamento prejudicam todas as pessoas, independente de onde moram”. Para piorar “o presidente usa a Lei de Segurança Nacional (aprovada na ditadura de 1964 a 1985), persegue jornalistas, sindicalistas, ambientalistas e todas as pessoas que discordam dele”, reforça.
“O discurso de Bolsonaro na Cúpula do Clima foi para inglês ver, ou melhor, para soar agradável aos ouvidos de Joe Biden, com objetivo de arrancar-lhe dinheiro sem nenhum compromisso do governo brasileiro com o clima, com a natureza, com a democracia, com a ciência e com a vida”, destaca Vânia.
Fonte: CTB