Levantamento sobre a percepção da população paulistana em relação ao racismo e as consequências da discriminação no cotidiano da população negra na cidade, feito pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), mostrou que a desigualdade social é o fator que mais contribui para desencadear ou agravar problemas de saúde mental na população negra para 49% da população.
Segundo a edição de 2021 da pesquisa Viver em São Paulo: Relações Raciais, divulgada hoje (18), o medo constante de sofrer abuso ou violência policial, apontado por 45% dos entrevistados e o medo constante de sofrer discriminação ou preconceito racial e não saber como lidar, citado por 42%, também são fatores que interferem na saúde mental. Outros 47% dos paulistanos disseram que a pandemia também teve impacto maior sobre o trabalho e a capacidade de gerar renda das pessoas negras.
A pesquisa revelou ainda que em seis dos oito locais avaliados prevalece a percepção da maioria dos entrevistados de que há diferença no tratamento de pessoas negras e pessoas brancas, apesar de ter sido registrada uma leve queda nesses itens do ano passado para este ano. Para 78% das pessoas essa diferença de tratamento existe nos shoppings e comércios (81% em 2020). Nas escolas e faculdades, essa percepção foi apontada por 74% (77% em 2020); nas ruas e espaços públicos, 72% (75% no ano passado); no trabalho, 68% (74% em 2020) e no transporte público, 64% (no ano passado eram 70%). Para 57% das pessoas, há diferença nesse tratamento nos hospitais e postos de saúde (65% em 2020) e, no local onde moram, o percentual é de 48% (57% em 2020).
Segundo a Rede Nossa São Paulo, os indicadores apontam que as pessoas estão esperando medidas mais práticas de combate à violência e responsabilização das pessoas brancas, entendendo que o problema racial é uma questão para toda a sociedade. Se informar mais e se educar sobre o assunto segue a opção mais citada quanto ao papel das pessoas brancas no combate ao racismo (56% dos pretos e pardos, subindo 7 pontos em relação ao ano anterior), seguida de intervenção em situações de tratamento diferenciados entre brancos e negros (44% da população total).
O levantamento mostrou ainda que os entrevistados acreditam que as empresas devem sempre se posicionar contra qualquer ato de racismo (46%) e que elas devem treinar os funcionários para acolher melhor as pessoas que sofreram racismo (36%), além de ter canais específicos para denúncias de casos de racismo (33%). Também são 33% aqueles que entendem que as empresas devem promover campanhas contra racismo e criar políticas para banir ou bloquear clientes racistas.
“Nós fazemos essa pesquisa desde 2018 e percebemos que a percepção de racismo em São Paulo não está mudando. Então, realmente, estamos pecando em colocar essa pauta como transversal às diversas políticas e fazer com que a cidade seja acessível a essa população que é mais vulnerável”, disse a coordenadora da Rede Nossa São Paulo, Carolina Guimarães.
Segundo a coordenadora, pelo menos 80% das pessoas entendem que o racismo é prejudicial ao desenvolvimento econômico local. Para ela, a pesquisa “mostra claramente que as pessoas acreditam que os negros não conseguem atingir seu potencial pleno porque têm obstáculo”. A pesquisa indicou também que 48% dos entrevistados avaliam que o aumento da punição por injúria racial e o debate sobre o tema nas escolas (33%) são as medidas que mais contribuem para o combate do racismo na cidade de São Paulo.
“Especialmente quando temos desafios, como a pandemia, por exemplo, que traz prejuízos para a saúde mental, podemos ver dois grandes caminhos: um a mais curto prazo e punitivo, entendendo que as pessoas estão cansadas de ver o racismo e a injúria racial e acham que a punição é importante e outro mais a longo prazo, mais construtivo, com debates na escola.”
Foram entrevistados 800 moradores da cidade de São Paulo, com 16 anos ou mais, entre os dias 10 a 26 de agosto de 2021.
Fonte: Agência Brasil