PUBLICADO EM 31 de jan de 2020
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Desemprego entre jovens é o maior em 20 anos na América Latina

De acordo com o Panorama Trabalhista da América Latina e Caribe, divulgado nesta terça-feira (28) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), a estagnação econômica na América Latina leva a juventude ao maior índice de desemprego dos últimos 20 anos.

Por Marcos Aurélio Ruy

Pelo estudo da OIT, a taxa de desocupação juvenil atingiu 19,8% em 2019, três vezes mais que a média da população adulta, ou seja, 1 em cada 5 jovens, de até 24 anos, está fora do mercado de trabalho, sem contar que a maioria só consegue emprego em condições precárias.

“As políticas ultraliberais de retirada de direitos trabalhistas e redução do papel do Estado adotadas no Brasil e no mundo não poderiam ter outro resultado se não este do aumento do desemprego e da informalidade”, afirma Luiza Bezerra, secretária da Juventude Trabalhadora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

E “como em todos os momentos de crise, a juventude está entre as parcelas mais afetadas”, assinala. “Um exemplo claro disso é que temos duas vezes mais jovens desempregados do que nas demais faixas etárias”.

Recentemente, a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) divulgou o Balanço Preliminar das Economias da América Latina e do Caribe 2019, com análise dos últimos 6 anos, apresentando o pior cenário na economia da região dos últimos 40 anos.

Com previsão de crescimento de 0,1% em 2019 e 1,3% em 2020 e um significativo aumento da pobreza que atingiu 191 milhões de pessoas no ano passado. A situação da juventude brasileira não é diferente como mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No primeiro trimestre de 2019, 41,8% das pessoas entre 18 e 24 anos estavam subutilizadas, ou seja, estavam sem emprego ou desistiram de procurar ou tinham disponibilidade para trabalhar mais horas por semana e assim ganhar mais.

Tratava-se de 7,3 milhões de jovens subutilizados, o maior número já registrado desde que a Pnad começou a ser apurada em 2012 — destes, 4,26 milhões estavam em busca de uma colocação, levando a uma taxa de desemprego de 27,3% nesse grupo populacional.

“A precariedade do trabalho está virando norma no Brasil”, destaca Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da CTB. “A maioria dos empregos para a juventude consiste em entregadores de aplicativos ou telemarketing”, ressalta.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) mostra crescimento vertiginoso da população que trabalha em veículos, como os motoristas de aplicativo, taxistas e motoristas e trocadores de ônibus, com crescimento de 29,2% em 2018 em relação a 2017.

No mesmo período, o número de entregadores em geral cresceu 9,9%, chegando a 10,1 milhões de trabalhadoras e trabalhadores. “Que futuro podemos esperar sem trabalho em condições dignas para os mais jovens?”, questiona Vânia.

O relatório da OIT sinaliza que os números são um claro “sinal de alerta na medida em que ameaça o presente e o futuro de milhões de jovens que não encontram oportunidades de emprego e cujas aspirações de mobilidade social se veem truncadas”. Isso porque o emprego juvenil se contraiu em 11 países que representam quase 90% da força de trabalho ocupada na região(Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, México, Paraguai, Peru e Uruguai).

Para piorar, 60% da população de 15 a 24 anos, da América Latina, está na informalidade e 22% nem estudam nem trabalham. “São dados preocupantes não apenas para a juventude latino-americana, mas para o conjunto da classe trabalhadora”, analisa Luiza, porque “quando mostramos dados de aumento da precariedade do trabalho entre os jovens estamos falando das condições presentes e futuras do mercado de trabalho”.

Então, “é esta a sociedade que queremos construir para as novas gerações? Com aumento da desigualdade, da miséria, da fome?”, pergunta Luiza. “Ou queremos uma sociedade com emprego decente, com salários dignos, com uma formação profissional que seja capaz de abrir portas para a ascensão social?”.

É esse o debate fundamental que se deve fazer, reforça Luiza. “Governos, como o de Bolsonaro, estão na contramão do desejo do povo de melhorar suas condições de vida”, por isso, “precisamos seguir denunciando o desmonte do Estado e a retirada de direitos que este governo tenta implementar”, finaliza.

Marcos Aurélio Ruy é jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

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