A recessão jogou milhões de pessoas no desemprego de longa duração. O tema foi manchete do jornal Valor Econômico, nesta segunda, 26. São trabalhadores que procuram vaga há um ano ou mais. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), no quarto trimestre do ano passado, havia 5,029 milhões nessa condição. Isso significa 130% a mais do que no mesmo período de 2014.
Em entrevista à Agência Sindical, Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Dieese, afirma que os números mostram um cenário ainda preocupante e de alto desemprego. “Os indicadores revelam que a recessão teve impacto sobre o mercado de trabalho muito além do aumento na informalidade. Incomum é o crescimento do tempo de procura e também do desalento, que pode ser traduzido como perda da perspectiva de encontrar colocação. Quanto mais longa a busca por emprego menor a chance de se conseguir trabalho”, observa.
A demora na recolocação, segundo especialistas, pode gerar desatualização profissional ou colar na pessoa o estigma decorrente do longo período de afastamento. O IBGE mostra que 2,8 milhões de pessoas procuravam emprego ininterruptamente por dois anos ou mais no Brasil, no quarto trimestre de 2017, contingente 143% superior ao do final de 2014.
Escolaridade – O desemprego de longa duração afeta variadas faixas. Dos 5,029 milhões, há um ano ou mais, 43,6% têm até o ensino médio incompleto; outros 40,2%, o ensino médio completo; e 9,4%, superior completo. Os demais compõem outros níveis de escolaridade, como os sem instrução (2,2%).
“Os dados mostram impacto em todo mercado de trabalho. Inicialmente, antes da crise na construção, até em razão da Lava-Jato, e na indústria, a partir de 2011 e 2012. Mas quando a crise se agrava seus efeitos recaem sobre todos os setores, incluindo comércio e serviços”, comenta Clemente Ganz Lúcio.
Ele completa: “Além da crise interna, a externa também afetou o setor exportador. Então, o mercado interno foi atingido pela própria crise e pelo fato da economia internacional não estar comprando. A produção econômica travou em todas as frentes e setores”.
Segundo Clemente, o mercado espera crescimento de 2,5 a 3% neste ano. O desemprego parou de crescer e já se registra criação de postos de trabalho. “Nessa conjuntura, crescem o trabalho informal, sem Carteira, e o trabalho por conta própria. Num primeiro momento pode haver contratação de pessoas com menos escolaridade, para postos auxiliares e também recém-desempregados”, explica.
Quanto aos desempregados de longa duração, o cenário deve persistir. Clemente diz: “Só quando o mercado de trabalho está há muito tempo contratando as vagas começam a alcançar os desempregados de longa duração”.