O Ministério da Saúde publicou nessa quarta-feira (22), no Diário Oficial da União, a convocação de uma “consulta pública” sobre a vacinação contra a covid-19 para crianças de cinco a 11 anos. Até 2 de janeiro, a pasta pretende colher “contribuições” da “sociedade civil” sobre o tema. Especialistas criticaram a decisão. Isso porque a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou na semana passada a aplicação da vacina da Pfizer para a faixa etária referida. O órgão técnico é responsável por garantir a eficácia e a segurança das vacinas, bem como dos demais tratamentos e medicamentos utilizados no país.
No entanto, desde a decisão da Anvisa, o presidente Jair Bolsonaro vem travando um cabo de guerra contra a imunização das crianças. Ele chegou a dizer que divulgaria os nomes dos técnicos da agência responsáveis por essa autorização. Diante disso, o servidores da Anvisa passaram a receber e-mails com ataques e ameaças.
Para o coordenador da Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt, “não faz nenhum sentido” a convocação dessa consulta pública. “Estou bastante preocupado com o que pode acontecer com as crianças não vacinadas”.
Ele também destaca que, no início da pandemia, as vozes contrárias ao governo Bolsonaro, que sempre foi contra a utilização de medidas não farmacológicas para a contenção do novo coronavírus, nem sequer foram ouvidas, mesmo sendo maioria.
Além disso, a neurocientista Mellanie Fontes-Dutra, que também faz parte da coordenação da Rede Análise Covid-19, lembra que o Brasil é o segundo país que registrou mais mortes de crianças em decorrência da doença causada pelo novo coronavírus. De março do ano passado até agora, foram 1.138 óbitos registrados na faixa etária de zero a nove anos.
Guerra contra a ciência
Para a coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), trata-se de mais um “absurdo” a realização dessa consulta. Ela afirmou que o governo está travando uma “guerra” contra órgãos não-eleitos, que têm a atribuição de regular e fiscalizar as ações públicas. “Vacina autorizada pela Anvisa não é assunto de consulta pública, pois a autoridade deste órgão independe do voto”. A autonomia do órgão técnico é “parte essencial” da democracia, ressalta.
Semeando divergência
A justificativa do governo é que não existiria “consenso” para a vacinação infantil. No entanto, de acordo com reportagem do portal Metrópoles, as próprias autoridades do ministério estariam mobilizando um grupo de “especialistas” contrários à vacinação. Da mesma forma como ocorreu no debate sobre a cloroquina, trata-se de vozes isoladas, não havendo, portanto, uma divergência científica estabelecida.
Diante dessa nova investida negacionista, que começou com os ataques aos servidores, as sociedades brasileiras de Imunizações (SBIm), Pediatria (SBP) e Infectologia (SBI) decidiram tornar públicos os pareceres enviados à Anvisa em que defendem a vacinação das crianças de 5 a 11 anos.
Fonte: Rede Brasil Atual
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