Cada ser humano nasce da fusão de duas células, descendentes de outras células, um óvulo e um espermatozoide. A linhagem de células que une uma geração a outra – chamada linha germinal – é, em certo sentido, imortal.Mas isso parece estranho se consideramos que, ao longo do tempo, as proteínas das células se deformam, formando grumos e transmitindo os danos para as suas descendentes. Assim, em milhões de anos, a linha germinal deveria se tornar devastada demais para produzir vida nova saudável.
Não é o que sugere um artigo, publicado em novembro deste ano no jornal Nature, dos pesquisadores da Calico, companhia de biotecnologia criada em 2013 pela Google, K. Adam Bohnert e Cynthia Kenyon.
Segundo o artigo, através do estudo de um pequeno verme chamado Caenorhabditis elegans (favorito dos biólogos há cinquenta anos por seu funcionamento interno parecido com o humano), antes de um óvulo ser fertilizado, as proteínas deformadas sofrem uma varredura em uma intensa “explosão de limpeza”.
Os estudos da Drª Kenyon com o C. elegans vêm de longe. Em 1993 ela descobriu que, ao desligar um determinado gene a expectativa de vida desses vermes mais que dobrava e suas linhas germinais continuavam rolando de uma geração para outra.
Esse estudo levou a descoberta de uma rede de genes envolvidos em reparar células, permitindo aos animais viverem mais.
A maioria dos C. elegans são hermafroditas, produzindo tanto óvulos como espermatozoides. Quando os óvulos amadurecem, eles viajam por um tubo para encontrar o esperma. O interessante é que, os óvulos, que carregam uma surpreendente carga de proteínas danificadas, quando estão mais próximos do esperma, o dano é menor. Esta informação sugeriu que os espermas mandam sinais para os óvulos para livrarem-se destas proteínas danificadas. Isso ocorre apenas nos últimos minutos antes da fertilização e modo que seus descendentes não herdam esta carga. Combinando essas descobertas, os pesquisadores trabalharam a cadeia de eventos pelos quais os óvulos se rejuvenescem.
A danificação de proteínas está relacionada à doenças degenerativas, como o Alzheimer. A hipótese trabalhada é criar um sistema em que estas células também possam erradicar proteínas danificadas. Com isso de poderia, por exemplo, tratar doenças dando às proteínas danificadas um sinal para limpar a casa. Mas os pesquisadores não veem esse “remédio” surgir tão cedo. Esse ainda é uma fase muito inicial.