O comércio varejista começou o ano com crescimento acima do esperado, sinalizando que o consumo segue em recuperação neste primeiro trimestre, impulsionado pela inflação mais baixa, ganho real salarial e queda da taxa de juros. Liderado pelo bom desempenho da atividade de hiper e supermercados, as vendas do varejo restrito cresceram 0,9% em janeiro, ante dezembro, pela série com ajuste sazonal.
Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil
No varejo ampliado – que considera, além das oito atividades pesquisadas no conceito restrito, os setores de automóveis e material de construção – houve ligeira queda de 0,1% nas vendas frente a dezembro. Essa baixa é explicada pela redução de 0,2% do comércio de materiais de construção, conforme a Pesquisa Mensal do Comércio, divulgada pelo IBGE.
Consultados pelo Valor Data, analistas de consultorias e instituições financeiras esperavam, em média, crescimento de 0,5% das vendas do varejo restrito e queda de 0,1% nas vendas do varejo ampliado. Segundo Isabela Tavares, da Tendências Consultoria, a surpresa positiva do varejo restrito reforça expectativas de aceleração do consumo das famílias para 3,3% no PIB no primeiro trimestre, frente a igual período de 2017.
“O consumo das famílias decepcionou no quarto trimestre, mas o resultado do varejo em janeiro mostra que a trajetória permanece em linha com os fundamentos”, disse a economista, referindo-se à melhora da ocupação e ao aumento das concessões de crédito. “O consumo deve voltar a crescer no primeiro trimestre e os fundamentos apontam aceleração ao longo do ano.”
As vendas de hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo foram bem em janeiro. Cresceram 2,3% sobre dezembro. A atividade responde por quase a metade (46%) do varejo restrito e tem sido estimulada pela queda da inflação e ganhos salariais reais. Os preços dos alimentos até subiram em dezembro e janeiro, mas após sete meses de deflação.
O avanço do varejo foi também espalhado: seis de dez atividades cresceram. Mesmo a retração de 2,3% nas vendas de móveis e eletrodomésticos, frente a dezembro, não preocupa, disse Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados. Quando comparado ao mesmo mês de 2017, a atividade cresceu 5,3%. No acumulado dos últimos 12 meses, o avanço foi expressivo, de 9,6%.
“O setor teve um boom em meados do ano passado com a liberação dos recursos do FGTS e depois passou por um ajuste, mas ainda está indo bem”, disse a economista da Rosenberg, acrescentando que esse segmento e outros de bens duráveis tendem a acelerar ao longo do ano, na medida em que o crédito der sinais mais efetivos de reação.
Além da surpresa com o resultado de janeiro, uma notícia positiva da pesquisa foi a revisão, para melhor, do desempenho do varejo restrito no fim do ano passado. O resultado passou de queda de 1,5% para uma baixa de 0,5%. Segundo Isabella Nunes, gerente da PMC, a revisão refletiu novas informações de Hiper e supermercados e do ajuste sazonal da pesquisa.
“Quando a empresa tem algum problema e não tem como dar informação a tempo do fechamento da pesquisa, ela envia as informações depois e atualizamos o resultado no mês seguinte. O resultado de dezembro é colhido ao longo do mês de janeiro, que é um período de férias”, disse Isabella, ao divulgar os resultados da pesquisa.
Economistas têm apontado, no entanto, que a Pesquisa Mensal do Comércio pode estar enfrentado problemas de ajuste sazonal. Em relatório, o Itaú afirma que a Black Friday não está completamente incorporada ao ajuste sazonal e pode distorcer as variações mensais dessazonalizadas de novembro e dezembro. Ou seja, a estatística do IBGE está errática, e não o varejo.
Segundo Fabio Ramos, economista do banco UBS, a série com ajuste sazonal do IBGE mostra, entre meses de alta e de queda, uma estabilidade do varejo nos últimos seis meses. “A mudança metodologia da pesquisa realizada no início do ano passado continua afetando a interpretação macro do varejo. As estatísticas mostram uma recuperação mais acidentada do que, acredito, está ocorrendo”, disse.
Em janeiro, Isabella Nunes, do IBGE, disse que o fenômeno da Black Friday é considerado no cálculo do ajuste sazonal da PMC, para evitar distorções no resultado de um mês para o outro. Ela disse que, com o passar do tempo e a repetição de um padrão de comportamento, o padrão sazonal passa a ter um “refinamento maior”.
O quadro do comércio em fevereiro ainda não está claro, mas os sinais são favoráveis. Os primeiros indicadores coincidentes, diz o Itaú, sinalizam estabilidade do varejo restrito e alta de 0,5% do varejo ampliado em fevereiro, frente a janeiro, nas séries com ajuste.
Fonte: Valor
