“Essa transposição da figura pública para a privada tem uma eficácia política, mas sugere temas ligados à moralidade. Ele mostra que tem o poder para dizer coisas impróprias, como uma criança”, explica o psicanalista, ao analisar os discursos escatológicos de Bolsonaro em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, na Rádio Brasil Atual.
Dunker ainda menciona que a retórica de Bolsonaro comparando seus adversários políticos com fezes vem de um antigo preconceito da sociedade. “Antigamente, criou-se a ideia de que as pessoas que estão abaixo na hierarquia social são mais sujas e os mais acima, são limpos. Isso cria preconceitos. Ele coloca os adversários políticos com problemas de caráter, como pessoas ruins, e o sinal moral mais simples é dizer que cheiram mal, sem higiene”, disse.
As piadas, como a do “troca-troca”, feita com seus ministros Sergio Moro e Ricardo Salles, também dizem sobre o presidente, explica o professor. “A gente vê essas brincadeiras na 5ª série, quando os meninos são inseguros sobre sua sexualidade”, aponta Christian.
Líder de torcida
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à TVE Bahia, disse que Bolsonaro atua como um chefe de torcida, pois a “a quantidade de besteira” que o presidente fala é para agradar a sua torcida composta por “fanáticos”. Dunker classifica esse como “estado de massa”.
“O momento político se entranhou na vida das pessoas. Algumas estão em estado de massa, pois falam com o uniforme de torcida, sem escutar seus argumentos, é uma regressão cognitiva, onde só se reproduzem pensamentos do outro”, afirmou ele, que cita como exemplo a invenção de inimigos. “Isso começou numa briga contra a corrupção, depois contra o PT, depois contra quem quer o mal do governo. E novos inimigos são compostos e produzidos a cada vez, como Paulo Freire e professores. A só aumenta e torna evidente pararam de pensar. Agora, só se categoriza e generaliza o outro.”
Dunker diz que essa retórica ataca também as instâncias de mediação. “As pessoas não enxergam a adversidade como outro ponto de vista, mas o contraponto vira um inimigo. Hoje, 7% dos brasileiros acreditam que a Terra é plena e isso serve para criar unidade entre essas pessoas, por isso apoiam quem fala sobre cocô e a língua da baixaria”, finalizou.