É urgente começar. Vamos falar e debater sobre as eleições legislativas. Nunca, desde a redemocratização, a partir de 1985, as eleições brasileiras foram tão aguardadas e geraram tantas e sôfregas expectativas. Claro, não é para menos.
Só que dessa vez, o foco não pode nem tampouco deve ser apenas em relação às eleições majoritárias — presidente, governadores e senadores —, com ênfase, como normalmente ocorre, na disputa presidencial.
É preciso, mais que nunca, prestar atenção nas eleições proporcionais — de deputados federais e estaduais. Porque o centro do poder político não está mais, isoladamente, com o Poder Executivo, seja o federal ou os estaduais. Os poderes legislativos empalmam mais e maiores poderes e prerrogativas. O Congresso Nacional e as assembleias estaduais desempenham papéis relevantíssimos, que não podem ser ignorados ou secundarizados, como normalmente tem ocorrido ao longo dos anos.
É preciso mudar o perfil neoliberal-conservador do Congresso Nacional. No caso do Legislativo federal atual, parte dessa maioria resvala perigosamente para o reacionarismo e o neofascismo. É preciso mais que eleger um presidente da República comprometido com o País. É preciso eleger um Congresso majoritariamente alinhado com os interesses do País e do povo pobre brasileiro.
Conceito relativamente simples
Nesse debate sobre as eleições para o Congresso e as assembleias legislativas (estaduais) é preciso desenvolver um conceito, que pode ser relativamente simples: “votar em quem você tem condições de pressionar”. Porque vai te ouvir com seriedade e comprometimento.
Não se deve votar em quem depois vai virar as costas para o trabalhador, por absoluta incompatibilidade de pensamento político-econômico-ideológico. É isso que está em questão.
Esse conceito é relativamente simples, mas não é simplista, pois não se trata de votar por afinidades religiosas, por amiguismo, compadrio ou outras aproximações e simpatias que extrapolam os conceitos da política.
“Votar em quem você tem condições de pressionar” é votar naqueles e naquelas que defendem, genuinamente, isto é, defendem na prática, a maioria da população, pois o critério da verdade é a prática, e não retóricas e proselitismos vazios.
Os movimentos sindical e sociais, para variar, estão atrasados nesse quesito. Isto é, nesse debate político-eleitoral legislativo. É preciso desde já iniciar esse debate sobre as eleições para o Congresso e as assembleias legislativas.
Não adianta derrotar o atual governo entreguista, anti-povo, antitrabalhador, anti-Brasil e eleger maioria parlamentar com estas características. Assim, o trabalho fica pela metade. Mais do que derrotar Bolsonaro e isolar o bolsonarismo, é preciso eleger deputados (estaduais e federais) e senadores comprometidos com uma agenda brasileira.
O que significa “uma agenda brasileira”?
Significa uma agenda de desenvolvimento, que resgate o conceito de trabalho e renda dignas. Não o de Bolsonaro, que “é melhor trabalho sem direitos, do que direitos sem trabalho”. Isso é a indignidade bolsonarista.
A agenda de desenvolvimento deve abarcar a questão da industrialização em todas as esferas da economia, pois isso é que fará o País crescer, se desenvolver e gerar trabalho e renda dignas. O Brasil está deveras atrasado nisso.
A agenda de desenvolvimento deve trilhar matriz econômica completamente diversa da atual. Nesse sentido, recomenda-se a leitura atenta deste importante artigo do economista e jornalista José Carlos Assis: Uma matriz legal contra a crise.
Esta leitura é mais que relevante. É esclarecedora.
Finalmente, para entender a relevância das eleições legislativas de 2022 é preciso entender a agenda legislativa em questão. Para isso, recomenda-se a leitura atenta do relevante artigo do arguto assessor do DIAP Neuriberg Dias: Nova Agenda Trabalhista pós-pandemia da covid-19.
Marcos Verlaine é Jornalista, analista político e assessor parlamentar licenciado do Diap