O voo de galinha é a retomada lenta, gradativa e insegura do crescimento econômico.
Para os trabalhadores não significa que a situação melhorou, mas que parou de piorar.
Alguns números que me foram repassados pelo companheiro do Dieese, Thomaz Jensen, podem sintetizar esse processo.
O primeiro deles é sobre o desemprego, cuja curva continua bem alta, mas tem caído lentamente. A queda do desemprego formal é acompanhada pelo crescimento, também lento, de todas as situações de emprego precário (informais, subocupados, desalentados etc) que somam juntos 65% da força de trabalho, configurando o que tenho chamado de novo normal.
Em relação aos salários a perspectiva para 2020 se comparada ao que ocorreu em 2019 pode configurar também o voo de galinha.
No ano passado, levando-se em conta as quase 14 mil convenções e acordos salariais (registradas no sistema mediador do ex-ministério do Trabalho) o ganho real médio foi de 0,2% (somando-se os 25% que amargaram arrocho, os 25% que empataram com a inflação e os 50% que registraram ganhos reais). Este resultado comparado com as projeções da inflação de 2020, que continuam baixas, pode garantir desde que haja empenho nas campanhas salariais, ganhos reais facilmente superiores a 0,2%, o que significaria não uma melhora forte, mas uma “não piora”.
A comparação em 2019 entre os salários de admissão e os de demissão, com uma taxa de 0,95, demonstra que, ainda que persista a alta rotatividade, tende a haver um equilíbrio entre um e outro que pode ser mantido em 2020.
Embora hoje (como não poderia deixar de ser) acumulem-se nuvens negras no horizonte macroeconômico, o voo de galinha para os trabalhadores cria novas expectativas que podem ser diferentes das expectativas dos dirigentes, mais preocupados com as perdas e com as dificuldades.
O voo de galinha, que é real, contraria as teses catastrofistas e impõe aos dirigentes um comportamento mais inteligente em sua resistência junto com os trabalhadores.
João Guilherme Vargas Netto, Consultor Sindical