Depois de um ano sem fazer nada para enfrentar a pandemia do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro esboça uma tentativa de ação, mas totalmente descoordenada, sem diálogo com a sociedade e sem base científica. Já perdemos mais de 300 mil brasileiros por causa da incompetência e do negacionismo do presidente. Basta.
O Brasil não teve e não está tendo uma coordenação nacional para combater a pandemia e a crise econômica. Os governadores e os prefeitos têm agido por conta própria. Com isso, os resultados são parcos porque poucos fazem o necessário lockdown e o sistema de saúde colapsou.
Sem incluir os profissionais da educação o grupo prioritário de vacinação, o governo paulista insistiu em aulas presenciais, mesmo sabendo dos graves riscos a que estava expondo os profissionais da educação, os estudantes, os familiares e toda a sociedade por aumentar a disseminação do vírus devido à maior circulação de pessoas.
Tardiamente toma medicas restritivas, que não funcionam porque parte da população precisa sair para trabalhar e alimentar a família, porque não recebem auxílio do governo e outra parte faz festas, seguindo a cartilha negacionista de Bolsonaro.
A inclusão dos trabalhadores da educação no grupo prioritário de vacinação chegou, mas precisa ser aperfeiçoada. Porque serão vacinados os profissionais de 47 anos para cima. Isso representa 40% das trabalhadoras e trabalhadores da educação pública e privada no estado. Nenhum profissional pode ficar sem vacina já.
Já começa falha, portanto. Queremos vacinação para todos que trabalham nessa área tão vital para a cidade, o estado e o país. Até porque a covid-19 já atinge pessoas cada vez mais jovens com a mesma intensidade do que atinge os idosos.
Precisamos de vacina. E pela dificuldade de encontrar porque o governo brasileiro não correu atrás na hora certa, temos a possibilidade de firmar convênio com o Instituto Finlay, de Cuba, para o desenvolvimento das pesquisas da fase 3 das vacinas Soberana 1 e 2 no país. Não podemos perder tempo. Essa é uma possibilidade real de garantirmos vacina antes do fim do ano. Se o Ministério da Saúde não agir, os governos estaduais devem fazê-lo.
O governo federal finge se mexer, mas faz muito pouco para frear a disseminação do vírus. Boa parte dos governadores procura agir, mas cada qual à sua maneira. É preciso dar ouvidos à ciência e neste momento realizar um lockdown, parando tudo.
Mas o lockdown só pode dar certo se tivermos um auxílio emergencial que garanta ao menos o mínimo para as famílias se manterem vivas, sem precisar sair de casa. O Congresso precisa garantir pelos menos R$ 600 por mês até o fim da pandemia para as mais de 60 milhões de pessoas que dependeram do auxílio no ano passado.
Quem tem fome tem pressa e, no Brasil, cerca de 70 milhões de pessoas (mais do que a população de muitos países) estão no nível de insegurança alimentar grave. É responsabilidade do Estado garantir que essas pessoas tenham pôr na panela para cozinhar.
Como é também responsabilidade do Estado garantir acesso à saúde, educação e uma vida digna para todas as brasileiras e brasileiros. E isso já não acontecia antes da pandemia. A fome aumentando e o governo liberando verbas para os mais ricos e cortando direitos da classe trabalhadora, que é quem sustenta o país na verdade.
Na educação paulista, sempre reivindicamos a inclusão da categoria no grupo prioritário para a vacinação, justamente para defender a vida de toda a comunidade escolar e, portanto, de toda a sociedade. Mas o secretário de Educação, Rossieli Soares sempre negou e insistiu nas aulas presenciais sem a mínima segurança para todos os envolvidos.
O governo estadual esperou 2.137 profissionais serem contaminados em 1.063 escolas e 55 óbitos para incluir esses trabalhadores no grupo prioritário. Mesmo assim com limitação de idade. Programa vacinar 40% da categoria e os outros 60%? Continuarão se expondo aos riscos?
Enfim, quantas mortes serão necessárias para o Congresso encaminhar o impeachment de Bolsonaro, que sempre zombou do povo brasileiro? Ele não fez nada para conter a covid-19. Ele não fez nada para impedir a proliferação do vírus e das mortes. O Brasil não aguenta mais. Vacina para todos já! Fora Bolsonaro!
Francisca Rocha é secretária de Assuntos Educacionais e Culturais do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), secretária de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE) e dirigente da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil, seção São Paulo (CTB-SP).
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