Todo fenômeno social complexo que envolve grandes números necessita de critérios classificatórios para sua melhor compreensão.
É o que se passa hoje no Brasil com o quadro aterrorizante de precarização das relações do trabalho e de desemprego. Quais os conceitos para uma descrição correta? Quais os números que quantificam a situação?
Em artigo de novembro de 2018 o economista Alexandre Schwartsman alertava que o fenômeno do desemprego (e a correlata precarização) é suscetível de variadas definições e mensurações e isto induz correntemente a erros, perturbando a compreensão e ocasionando mentiras (como as que criticava do então recém eleito presidente Jair Bolsonaro).
Mas agora o seu colega economista Marcel Balassiano do IBRE-FGV aponta em artigo da jornalista Miriam Leitão (o Globo, 5 de fevereiro) um quadro “real” do mercado de trabalho que considero correto porque o descreve de maneira pertinente.
O economista, partindo da força de trabalho brasileira de 106,2 milhões em dezembro de 2019, considera que 67,4 milhões de trabalhadores estão em “situação precária de emprego”, assim discriminados:
41,2 milhões de trabalhadores informais
11,6 milhões de desempregados
6,8 milhões de subocupados
4,6 milhões de desalentados
3,1 milhões que procuraram emprego, mas não estavam disponíveis para a vaga
(a soma contempla os arredondamentos).
Nesta descrição vemos como em torno do núcleo duro do desemprego se agregam as variadas formas de precarização, totalizando 65,3% da força de trabalho.
Esta é a chaga social por excelência, um novo normal, que é preciso ser enfrentado com urgência e com persistência.
João Guilherme Vargas Netto, Consultor Sindical