Negacionismo não é só fake news e absurdos toscos, delírios e histerias. Nunca deve ser confundido com uma espécie de irracionalismo que beira o animalesco, pois faz parte de um conjunto articulado, inteligente, proposital, metódico, pedagógico, instrumentalizado que visa estabelecer um projeto de sociedade, um modelo de comportamento e uma estrutura de poder – político, jurídico, institucional – com pretensões de largo espectro e duração.
O primado do negacionismo está em sua perspectiva de estabelecer a versão e a narrativa como suficiências explicativas e mobilizatórias convincentes ao público a qual se dirige – aliás, de maneira estratégica e nada aleatória.
Não requisita provas, mas probabilidades. Tampouco fatos, apenas factibilidade. Se vale da credulidade alheia no argumento – aparentemente lógico e razoável – em vez de se afirmar na experiência e resultado científico ou verificável.
A negação é também uma afirmação: ao negar o dado sólido e consagrado, o substitui por considerações revisitadas. Assim, captura e reinterpreta valores, sentidos, significados.
Os símbolos pátrios e o sentimento de identidade e pertencimento nacional são apropriados por uma narração única, exaustiva e inflexível linguagem que destrona qualquer outra conceituação ou prática.
As pautas “anti” – corrupção ou sistema – sofrem o mesmo fenômeno. E até o improvável – as questões das liberdades e direitos – ganham roupagem consentânea aos ditames negacionistas, responsáveis e capazes de “virar ao avesso” seus matizes para encaixá-las ao ideário fascista.
Enfim, combater o negacionismo não é tarefa de menor monta. Extrapola o campo das subjetividades – ideologias, imaginários, mentalidades – e se conecta e equivale em centralidade às inferências materiais e concretas da Economia é Política.
À “guerra cultural”, máxima atenção! Desconstruir e reconstruir são atos simultâneos, mesmo porque a outra vertente e campo de ação da burguesia é do Capital – o neoliberalismo – não está prosa: traz agenda, discurso e iniciativa feroz e impiedosa contra os trabalhadores, seus reclames imediatos e suas organizações que labutam pela transformação radical da sociedade.
A marcha civilizatória inaugurada com a derrocada do modo de produção feudal e supremacia histórica circunstancial do Capitalismo não se limita ao último. Ainda que em conjuntura desfavorável, impõe-se o avanço no rumo do Socialismo.
Alex Saratt é professor de História nas redes públicas municipal e estadual em Taquara/RS, vice-presidente estadual Cpers-Sindicato e Secretário de Comunicação da CTB-RS.
Paulete Souto
Muito correta sua reflexão sobre o momento caótico que passa o país.