A instantaneidade do nosso tempo exige opiniões e reflexões imediatas, açodadas pela espetacularização cruenta e cruel da realidade. A fugacidade dos eventos querem impedir ver neles suas conexões sociológicas e históricas, numa matreira manipulação ideológica.
Realizar um exame minimamente ponderado acerca dos recentes ataques criminosos e assassinos às escolas permite muitas abordagens, logo concentro a exposição a um aspecto imbricado à própria Educação: o papel da Pedagogia no enfrentamento a esse cenário contaminado pelo ódio, armamentismo, repressão, violência e morte.
Cada item supracitado tem concretude e materialidade, pode e deve ser objeto de intervenção por todas as partes, cabendo à Educação um papel central. A escola é um aparelho dominado e doutrinado pela classe que dirige o Estado, mas em seu interior uma inteligência e consciência coletiva não só faz diferente, também resiste.
A resistência é ativa, reflexiva e produtiva. Os educadores e educandos têm no espaço e relação escolar um momento e oportunidade para contrapor-se à ideologia dominante do capitalismo que mescla neoliberalismo e fascismo sem nenhuma vergonha.
A concepção histórico-crítica e a convicção de que um projeto educacional e pedagógico calcado numa perspectiva de diálogo, solidariedade, cultura de paz, tolerância, não-violência e combate às discriminações, preconceitos e exclusões, mesmo num órgão estatal, burguês e capitalista, demarca e confronta aquilo que o status quo torna senso comum.
Não há dúvidas que outras medidas tem validade e utilidade, mas o fenômeno atual tem que ser enfrentado também no campo onde temos preponderância, projeto e atuação. Excrescências como o Escola Sem Partido, a Escola Cívico-Militar, o Homeschooling, a Ideologia de Gênero, o Novo Ensino Médio, compõe a estrutura de um “sistema nacional de educação” avesso aos princípios democráticos, às conquistas da cidadania, às necessidades históricas do povo, ao desenvolvimento, bem estar e soberania nacional.
Apesar da prédica parecer de fácil realização, nada disso: a compreensão do papel militante do educador e sua efetiva incidência sobre a realidade é trabalhosa, nos remete ao trabalho de base dos anos 1980. Precisa ser coletivo, tem que ter debate, toma tempo e energia, sofre restrições e perseguições, lida com limitações e desistências, mas se impõe por compromisso ético e político imprescindível.
As temáticas e conteúdos são vastos e variados, desde a denúncia do Fascismo até o conhecimento do teor da Declaração Universal dos Direitos Humanos; das plataformas digitais e das fake news; do entendimento das opressões e das formas de combatê-las; do significado da paz e da violência numa sociedade de classes e do papel da solidariedade, empatia e respeito.
Não nos falta matéria-prima, competência e intenção. Ou formulamos e agimos ou seremos simplesmente atropelados pelos que depõe contra a escola pública. E a profundeza do processo histórico em curso mostra-nos pelo retrovisor uma imagem terrificante da qual nunca imaginamos que voltaria a acontecer.
É isso. Luta e vida são sinônimos mais atuais do que nunca. Temos uma sociedade e conjuntura onde estão os sinais trocados. O que será de nós se os lobos solitários virarem alcateia? Como cantou Beto Guedes, “vamos precisar de todo mundo, pra banir do mundo a opressão, para construir a vida nova, vamos precisar de muito amor”.
Toda solidariedade às vítimas e famílias atacadas pela virulência fascista.
Alex Saratt é professor das redes públicas municipal e estadual em Taquara-RS.