PUBLICADO EM 23 de dez de 2020
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Retrospectiva 2020: um balanço sobre a crise!

De 2016 para cá, a economia brasileira vem revelando sérios contrastes que se agravou em 2019, tornando-se pior em 2020. Basta olharmos para resultado do PIB brasileiro que permanece numa condição vegetativa desde 2017 crescendo apenas 1,3% entre 2017 e 2018, e 1,1% em 2019.
Podemos dizer que estamos em queda livre quando falamos da economia que já andava capenga, e foi duramente agravada por uma crise epidêmico-viral que começou em fevereiro deste ano, reproduz na sociedade sendo muito mais dura na vida da classe que sobrevive do trabalho.

Cálculos do IBGE apontam que o Brasil tem hoje cerca de 13,8 milhões de pessoas na fila do desemprego, um crescimento de 14,4% calculado no trimestre encerrado em agosto, a maior taxa da série histórica, iniciada em 2012. Temos mais de 28,3milhões pessoas na informalidade, e nenhum projeto vindo do governo que tem a obrigação de promover mudanças na economia, e ir além do que pensa e faz o ministro Paulo Guedes com sua política de terra arrasada, que em vez de ajudar, precariza ainda mais uma situação que representa um terrível desastre ao país, onde poucos são beneficiados enquanto a maioria da população encontra-se ao deus-dará.

Ainda que nos últimos três meses o mercado de trabalho tenha esboçado uma tímida reação, esse crescimento é nada frente aos milhões sem trabalho, pois esses empregos são em grande medida precários, com trabalho intermitente, contrato por prazo determinado, meia jornada e quase sempre com remuneração insuficiente para prover uma família de quatro pessoas. Isso tem contribuído para o aumento das desigualdades, principalmente em relação à população negra.

A desigualdade de renda entre as classes sociais e, principalmente, entre negros e brancos, além de permanecer, vem aumentando nos últimos anos. Tanto em relação aos indivíduos do sexo masculino quanto feminino. Em 2018 o salário médio mensal das pessoas brancas era de R$ 2.796,00. Para a população preta e parda não ultrapassava R$ 1.608,00. Uma disparidade de 73,9%. Já em relação às mulheres negras a diferença era ainda mais gritante, vez que recebiam menos da metade, cerca de 44% em termos de salário, se comparado ao rendimento médio dos homens brancos. E situações iguais a estas têm se agravado com as reformas; trabalhista e da Previdência Social, um verdadeiro desmonte dos direitos, promovidos pelo governo Michel Temer entre 201 e 2018 e agora por Jair Bolsonaro.

Somados tudo isso e especialmente nesses tempos de pandemia e inflação alta, os grupos com altos índices de pobreza e miserabilidade são os mais atingidos. Enquanto uma parcela minoritária da sociedade está lucrando alto com essa crise. Não foi à toa que nos 4 primeiros meses da pandemia do coronavírus, 42 bilionários brasileiros tiveram suas riquezas aumentadas em 34 bilhões de dólares. Essa gente não enriqueceu por sorte ou porque é mais competente que 210 milhões de brasileiros e brasileiras, mas porque o modelo econômico adotado pelo governo Bolsonaro assim o permitiu. Tipo Robin Hood às avessas, que tira dos pobres para dar aos ricos.

Perdemos empregos, renda, direitos e, não bastasse tudo isso, estamos perdendo vidas. Assim como estamos perdendo a sensibilidade diante desse verdadeiro holocausto que tem se refletido nas negociações salariais deste ano. O sindicalismo, que sofre ataque de todos os lados, tem lutado para impedir maiores perdas na renda dos trabalhadores.

Nesse sentido, a ação sindical tem sido de resistência. O que mostra, segundo o DIEESE, Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sociais, que o processo de negociação salarial deste ano, ainda que em condições desfavoráveis, de alto desemprego fechamento de empresas e intransigência patronal, a maioria das campanhas salariais tem sido com reajustes iguais ou superiores à variação da inflação acumulada com base do INPC/IBGE.

Sindicatos e centrais sindicais permanecem mobilizados para garantir, não somente conquistas através de negociação com os patrões, mas, sobretudo atuando de maneira firme e consciente com visitas a forçar o governo federal e o Congresso Nacional a mudar essa política de redução de gastos públicos e adotar medidas, iguais ao auxílio emergencial de no mínimo R$ 600,00 pelo menos enquanto durar a pandemia.

Uma pesquisa do Datafolha sobre o assunto, apontou que 44% dos brasileiros tinham o auxílio emergencial como única fonte de renda, cerca de 75% da população diminuiu a compra de alimentos e outros 65% cortaram despesas com remédios. Além disso, 55% deixaram de pagar as contas da casa e 51%, pararam de pagar escola ou faculdade.

Portanto, a situação para 2021 requer mobilização da classe trabalhadora e voltada para a defesa da retomada do crescimento econômico: Com a geração de empregos e renda, investimentos maciços em saúde e educação, apoio à micro, pequena e média empresa, além da criação de renda básica aos desempregados e/ou necessitados. Sem os quais a vida que hoje está difícil poderá se transformar em um verdadeiro inferno.

Ao contrário do que diz o governo Bolsonaro, não temos o que comemorar já que o desemprego cresce enquanto a renda despenca e as incertezas aumentam. De uma coisa temos certeza, sem emprego e renda o futuro para maioria se torna nebuloso.

Paulo Henrique Viana, Paulão – Secretário-Geral do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Laticínios e Alimentação de São Paulo.

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  • ROBERVAL PEDROSA

    Parabéns Paulão.. pela excelente reflexão sobre a real situação da classe trabalhadora brasileira…

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