A Sexta-Feira Santa é o dia em que os cristãos lembram a morte de Jesus na cruz. A Bíblia relata que no Domingo de Páscoa é dia de celebrar sua ressurreição, a primeira aparição entre os seus discípulos.
Sempre admirei a história da vida e obra de Jesus Cristo, cujos exemplos vêm sendo seguidos pelas pessoas de bem. Cristo não aceitava o tipo de vida que seu povo levava: governo cobrando altos impostos, riqueza concentrada nas mãos de poucos e extrema pobreza e miséria para a maioria.
Exploração
Mais de dois mil anos depois, infelizmente, constatamos que pouca coisa mudou. Até mesmo os regimes considerados democráticos ainda não conseguiram promover a tão almejada justiça social e nem acabar com as discriminações de toda ordem, principalmente em relação às mulheres. Aproveitando o espírito da Páscoa, sugiro uma reflexão sobre alguns temas sensíveis para nós brasileiros.
Veja o exemplo dos comerciários e os práticos de farmácia, categoria que represento no Congresso Nacional. Eles são 12 milhões em todo o Brasil, sendo 2,7 milhões só no Estado de São Paulo. Mais de 50% são mulheres. Em muitos estabelecimentos comerciais as mulheres, mesmo trabalhando nas mesmas funções dos homens, continuam recebendo salários mais baixos. Temos lutado contra isso de forma intensa e contínua, tanto na Federação dos Comerciários de São Paulo (Fecomerciários), como na Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio (CNTC) e nas comissões temáticas no Congresso Nacional.
Impressionante, como ainda temos tantas barreiras para transpor e transformar o discurso teórico em prática diária. São muitos os patrões e líderes dos diferentes segmentos produtivos que, diante de microfones e câmeras, defendem a implantação e o respeito à ESG sigla criada pela Organização das Nações Unidas (ESG) que é traduzida como respeito pelo meio ambiente (Environment) pelo Social e pela Governança corporativa (Governance). Mas para muitos é só discurso da boca pra fora.
Termômetro
Os comerciários representam a maior categoria de trabalhadores urbanos no Brasil. O que acontece com eles é um termômetro da economia. Se o comércio vai bem, encomendas são realizadas para a indústria e a roda da economia gira em benefício de todos. A cada negociação salarial temos que lutar muito para manter e ampliar as cláusulas sociais, garantidas por meio de Convenções Coletivas.
A luta por reajustes salariais para recomposição do poder de compra dos trabalhadores também é árdua. Está sendo muito mais intensa com a volta da inflação. Os assalariados são os que mais perdem com inflação em ascensão, prejudicando ainda mais os que ganham menos e que não conseguem colocar comida na mesa para sua família.
Um outro assunto preocupante e que também faz parte das nossas prioridades é o trabalho infantil. O número de crianças brasileiras de sete a 14 anos, em alguma atividade laboral, pode ser cerca de sete vezes maior do que apontam as estatísticas oficiais. A constatação é de um estudo de dois pesquisadores: do brasileiro Guilherme Lichand, da Universidade de Zurique (Suíça), e de Sharon Wolf, da Universidade da Pensilvânia (EUA). O resultado acaba de ser publicado na imprensa.
O estudo concluiu que o trabalho infantil prejudica aproximadamente 20 por cento das crianças dessa faixa etária, ou seja, mais de 5,6 milhões de vítimas, que são exploradas por adultos.
Sugiro que nesta Páscoa, aproveitando o fim de semana prolongado, você leitor, aproveite para fazer uma reflexão sobre esse cenário e sobre como você pode ajudar a reduzir essa triste realidade.
Luiz Carlos Motta é Presidente da Fecomerciários e da CNTC. É Deputado Federal (PL/SP)