A sociedade – ou, ao menos, a maior parte dela – depende do trabalho para seu sustento e para cumprir com deveres financeiros gerais, como as taxas públicas, por exemplo. Neste sentido, a massa é quem financia o Estado e faz a economia girar. Porém, é justamente a classe trabalhadora a que vem sofrendo os maiores golpes daqueles que deviam ser seus representantes – a saber: vereadores, deputados estaduais e federais, senadores; prefeitos, governadores e o presidente da República; todos eleitos com voto do povo.
É importante que esses representantes sejam também das fileiras de trabalhadores para que conheçam as dificuldades, necessidades e anseios daqueles que representam. Não é o que acontece, infelizmente. Quase 90% desses eleitos representam interesses do capital. E isso faz com que a classe trabalhadora venha sofrendo duros golpes já há muito tempo.
O governo deve apoiar políticas de fomento e sustentação para o setor produtivo, mas sem esquecer daqueles que trabalham. É possível que políticas de desenvolvimento sejam implementadas de maneira sustentável, que garantam trabalho digno, com salário e direitos, antes de mais nada. As políticas de fomento devem ter como objetivo gerar emprego de qualidade, reduzindo o custo para o estado, mas possibilitando ao trabalhador o poder de consumo, seu crescimento social, intelectual, seu lazer e sua saúde física e mental. Somente com trabalhadores saudáveis e com condição financeira é que faremos a economia girar. Infelizmente, não parece ser assim que a maioria dos digníssimos representantes da sociedade vê os trabalhadores.
As políticas adotadas pelos dois últimos governos de reduzir a estrutura do estado, reduzir direitos da classe trabalhadora e precarizar as condições de trabalho, vêm causando um desequilíbrio que está levando o Brasil a um patamar preocupante.
Quando o grau de maldade não recebe o mesmo grau de reação, a tendência é que os maldosos ganhem forças para se aprofundarem em seus atos e sufocar aqueles que são, aparentemente, mais frágeis. Diante da crise política e financeira que estamos vivendo, com desemprego, povo endividado, dólar supervalorizado, Real desvalorizado, instituições em conflitos e inflação galopante, os bancos, por exemplo, continuam obtendo lucros exorbitantes à custa deste cenário. A Caixa Econômica Federal, um banco estatal, obteve um lucro de 6,3 bilhões apenas no segundo trimestre deste ano – um crescimento de 144,7% comparado com o mesmo período de 2020.
Por que os trabalhadores não reagem? Enquanto a maioria dos políticos atua para beneficiar o capital, bancos e empresas faturam sem demonstrar qualquer constrangimento para com a classe trabalhadora e suas demandas, por que todos nós não nos levantamos?
Será que as representações dos trabalhadores e dos oprimidos, de maneira geral, deixaram de se indignar e de conscientizar seus representados sobre a necessidade de resistir para salvar o país e sua população deste abismo para qual o Brasil caminha?
Não tenho dúvida que haja esforço da maioria das lideranças de segmentos organizados, mas vejo que a indignação e conscientização está ocorrendo de maneira pulverizada, cada um cuidando de seu grupo, de maneira desarticulada e sem união. Está faltando um centro de convergência de nossa luta, com uma reação organizada antes que não haja mais tempo.
É este o desafio.
Artur Bueno de Camargo
Presidente da CNTA – Confederação Nacional dos Trabalhadores da Alimentação