PUBLICADO EM 10 de jun de 2019
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Quando a Justiça tem lado, não é justiça

Dois times se enfrentam num clássico, para decidir a final do campeonato. Mas o juiz está determinado a selar os rumos da partida: articula esquema tático, tenta barrar entrevista do técnico que elegeu como seu adversário (expulso de campo rodadas antes) e declara em mensagens trocadas com o restante da arbitragem o objetivo de impedir o título do seu rival, que acaba derrotado. Ovacionado pelos campeões, deixa de ser juiz para tornar-se dirigente do clube vitorioso, mas continua em contato com os árbitros, coordenando a atuação do apito. Se no futebol fatos assim resultariam em alvoroço, na política expõem profundo lapso no papel dos poderes.

Ambientado à desigualdade e motivado à defesa da justiça, o brasileiro sabe que ela não pode ter lado e, embora fatos costurados como narrativas que favoreçam o embate de mocinhos contra bandidos sejam cativantes, defender a verdade é um dever democrático e constitucional. As mensagens secretas da Lava Jato, divulgadas pela imprensa no último domingo, são evidências contundentes da utilização política da operação, desde o intuito declarado de ações no período da campanha eleitoral, até à liderança exercida por Sérgio Moro, já na condição de Ministro da Justiça – membro do governo e integrante do poder Executivo, não mais do Judiciário.

A separação e independência dos poderes estão entre os nossos princípios fundamentais, sacramentados na Constituição Federal. Quando os rumos do país são orquestrados numa tabelinha entre Judiciário e Executivo, a isenção cai por terra. Quando a Justiça tem lado, não é justiça… é outra coisa.

Cláudio Janta é vereador de Porto Alegre e presidente do Solidariedade no RS.

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