O desemprego já era um grave problema da economia brasileira e de um mundo do trabalho que passava por transformações profundas. O isolamento e os protocolos de distanciamento social, necessários para enfrentar a crise sanitária do COVID19, impacta o emprego, a organização das atividades produtivas e as empresas. A recessão tira dinamismo da economia, reduz ainda mais capacidade de resposta do setor privado e público, assim como gera imprevisibilidade.
A população em idade de trabalhar soma 170 milhões de pessoas no Brasil segundo o IBGE, dos quais estavam trabalhando até fevereiro 93 milhões, desempregados 13 milhões e 64 milhões estavam fora do mercado de trabalho. A crise sanitária reduziu para 81 milhões o contingente de ocupados até meados de julho, ou seja, em poucas semanas cerca de 12 milhões de pessoas perderam seus empregos e foram para a inatividade sem exercer a procura de emprego, motivo pelo qual a taxa de desemprego subiu pouco, passando de 12% para 13%.
Entre os ocupados cerca de 20 milhões estava afastada do trabalho no início de maio, a maioria por conta do isolamento social e da paralização das atividades produtivas. Até meados de julho cerca de 11 milhões já tinham voltando ao trabalho. Dos 9 milhões que ainda estavam afastados, mais de 6 milhões encontram-se nessa situação devido ao isolamento social ou à paralização da atividade produtiva(1).
O isolamento ampliou o uso de aplicativos e da comunicação eletrônica e o IBGE estima que mais de 8 milhões de pessoas passaram a trabalhar remotamente, contingente que permanece relativamente estável desde o início de maio. Para muitas empresas o uso do teletrabalho e do home office vieram para ficar. Notícias indicam que muitas empresas planejam tornar permanente o home office e o teletrabalho para mais de 50% daqueles que hoje estão inseridos nessa condição.
Entre aqueles que não estão na força de trabalho ativa há um contingente de 28 milhões de pessoas que declararam que gostariam (ou precisariam!) trabalhar. Ao somar esse contingente aos desempregados, há em potencial cerca de 40 milhões de demandantes de algum tipo de ocupação laboral. Observe o tamanho do desafio!
O contexto dos ocupados é marcado pela alta informalidade, rotatividade, terceirização e múltiplas formas de precarização tornam o problema de subutilização da força de trabalho um desafio estrutural para as pessoas, para as famílias e para a economia.
Clemente Ganz Lucio, Sociólogo, consultor, professor e assessor das Centrais Sindicais. (2clemente@uol.com.br).
(1) A diferença, cerca de 3 milhões, encontram-se afastados por férias, licença saúde, acidente ou maternidade/paternidade, etc