A euforia dos agentes financeiros em função do crescimento de 1,2% do PIB/Brasil no primeiro trimestre de 2021 não é motivo para se afirmar que a economia como um todo está bombando. Concretamente estamos longe disso. Esse crescimento é resultante do que ocorre nos setores agroexportador e de extração de minérios.
O Brasil vive hoje uma evidente reprimarização da sua economia. Um retorno aos anos anteriores a 1930. Ontem, café, algodão e açúcar eram os principais produtos de exportação; hoje, carne, cereais e minérios. Em que pese o setor agroexportador ser hoje o destaque na economia brasileira, não foi por seu único esforço e importância que o Brasil alcançou o patamar de 7ª economia mundial. Tanto é assim que, enquanto este segmento cresce o país despenca no ranking das principais economias do mundo, hoje na 13ª posição.
Segundo matéria da Folha de São Paulo, de 19/4/19, e com base em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), a participação do Brasil na economia global atingiu o pior nível em 38 anos. Em 1980 a fatia do país na produção de bens e serviços globais era de 4,4%. Em 2018 caiu a 2,5% (a sétima queda anual seguida). Os setores que de fato empregam e oferecem empregos melhor qualificados, como a indústria, têm operado em baixa. No caso da indústria de transformação esta operou negativamente no primeiro trimestre em -0,5%, segundo o IBGE. A construção civil que emprega bastante e, aquecida, serve de termômetro para o restante da economia, também anda mal das ‘pernas’.
Por fim, se o investimento privado é hoje o mais baixo em 50 anos, como vem sendo divulgado, o do setor público em 2020 foi de 2,5%. Muito abaixo das necessidades para uma economia capengando e um governo no qual investidor privado parece não confiar, pois espera que tome as rédeas da situação e injete recursos para promover uma arrancada principalmente em infraestrutura. O que não tem ocorrido. O modelo neoliberal de desmonte do Estado imposto por Paulo Guedes não deixa. Por isso, as expectativas de parcela do mercado para 2023, ano que se terá no país um novo governo ou mandato igualmente novo para um dos postulantes de 2022 ao cargo de presidente da República. Até lá vamos enfrentando as dificuldades econômicas e sociais: inflação subindo, desemprego aumentando, renda caindo e o número de mortos pela pandemia rumando em direção a um milhão de óbitos.
José Raimundo de Oliveira é historiador, educador e ativista social.