Vou cometer uma auxese epitrópica, um exagero em que se afirma algo que pode ser contestável.
A pandemia tem colocado para os brasileiros dois desafios: enfrentar o coronavírus, evitando a Covid-19 e se desvencilhar do bolsonavírus, respeitando a Constituição.
O primeiro desafio, ainda a ser vencido, pressupõe isolamento social, regras de higiene, fortalecimento do SUS e gastos imediatos e ilimitados do Estado.
Suponho (um exagero contestável) que o segundo desafio tenha sido resolvido à moda boliviana recente: – Peça seu boné e retire-se!
Teríamos então, respeitada a Constituição, a presidência de Mourão, que deve ser supervisionado.
O próprio movimento de união nacional que provocará o pedido do boné e a entronização de Mourão cuidará dos termos de sua supervisão, com amplitude, urgência e determinação.
Há, nesta tarefa, quatro esteios que equilibram o arranjo (além dos suportes militares em que não mexe): o ministério da Saúde, que pode ou não continuar com Mandetta ou ser entregue a alguém mais qualificado do “partido da Saúde”; o ministério da Economia em que dominará alguém recém convertido ao keynesianismo e menos indolente ou menos teimoso que o Guedes; na Justiça, ministério importante porque é “Justiça e Segurança” substitui-se o moralista justiceiro Moro por um verdadeiro estadista experiente.
Falta a quarta perna. E esta seria constituída pela recriação do ministério do Trabalho, Emprego e Previdência Social, sob o comando de um interlocutor privilegiado de trabalhadores e patrões, capaz de valorizar o mecanismo essencial das negociações sociais, aproximando entre si os grandes agentes que podem estabilizar o quadro. O ministério deve ser recriado com o peso que teve quando foi criado pela Revolução de 30.
Para vencer, é preciso ousar.
João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical