Escrevi texto longo sobre as urnas e seus resultados. Não me apeteceu, ficou idiossincrático. Resolvi dar ultima forma e fazer algo mais telegráfico.
* Não vamos “enfeitar o pavão”, a Esquerda não saiu vitoriosa dessas eleições. Entrou dividida e, não raro, conflitante. A unidade “na marra” durante o 2º turno não recuperou o prejuízo e tampouco garante que se encaminhará algo do gênero para o futuro. Responsabilidade cívica e noção da realidade talvez ajudem no processo, mas se persistir a tese fantasiosa de vitória da Esquerda, “foi-se o boi com a corda”;
* O propósito da Frente Ampla continua válido, mas também é verdadeiro que é preciso nucleá-la a partir da Esquerda. Para além das disputas costumeiras, o sistema eleitoral e suas implicações nas legalidades partidárias é um grande obstáculo para forjar a união requisitada;
* A memória anda curta: já esquecemos como Bolsonaro triunfou, à parte ou por cima do sistema partidário tradicional, operando com outra lógica e método. Em meio a maior crise(s) vivida pelo Brasil desde a redemocratização, pouco se ouviu de críticas ao mandato presidencial e se é real que seus candidatos naufragaram, o mesmo não pode ser dito de seu discurso e política, presente na boca e nos programas da maioria dos vencedores;
* Aliás, em diversas eleições foi o voto bolsonarista que definiu a parada a favor das candidaturas de Direita, como visto em São Paulo, Porto Alegre, Vitória e outras;
* Em votos nominais, Centrão e partidos bolsonaristas cresceram. Isso somado às vitórias da Direita Neoliberal (PSDB, DEM, MDB, PSD) colocaria hoje um segundo turno presidencial entre Bolsonaro e Dória;
* Sartre escreveu certa feita: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”. Não convém desprezar os números, porém não é saudável e inteligente se aferrar aos mesmos. Há uma brecha para transformá-los usando de argúcia, audácia e destemor, mirando o inimigo central, o fascismo. Atende pelo nome de Frente Ampla.
* Se unidade e amplitude soam como os mantras a serem entoados, cumpre registrar alguns outros elementos importantes para a agenda política: renovação de quadros e lideranças, atualização da leitura sobre a realidade social e econômica do país, síntese das questões democráticas e desenvolvimentistas com as pautas identitárias;
* Botar na rua o Fora Bolsonaro como campanha permanente de denúncia e oposição ao projeto de destruição do povo e do país.
Enfim, sem pretensões de dar a fórmula dos caminhos a serem trilhados e sem esmiuçar os pormenores da luta social e movimentos políticos possíveis e necessários para vencer essa dura circunstância histórica que se arrasta – na prática – desde o biênio 2013/14 e que teve seus lances radicalmente dramáticos com o Golpe de 2016 e seu repique em 2018 com a eleição de Bolsonaro.
Colocar os interesses populares, nacionais e democráticos à frente implica unir, ampliar, lutar e derrotar o fascismo. O resto é conto da carochinha.
Alex Saratt é professor de História nas redes públicas municipal e estadual em Taquara/RS, vice-diretor do 32º núcleo do Cpers-Sindicato
Amauri
Amigo e colega Alex:
Realmente a frente de esquerda forçada no segundo turno, creio que nos mostrou o alcance máximo da votação da esquerda nas cidades que concorreram, principalmente nas capitais. Li muitas análises sobre o resultado das urnas, é a maioria afirma que a esquerda cresceu, porém também concordo contigo chegamos, talvez ao máximo do espichar da corda. Se analisarmos a eleição em Porto Alegre, foi o carisma e a potencial de votos da Manuela junto aos jovens que prevaleceu, mesmo com todos ataques da direita. Por isso, não podemos dizer que a frente formada pelo PT, PDT e PSOL foram preponderantes na votação da Manuela, pois recorremos aos números em eleições passadas, somente o PT fazia em torno de 30% dos voto, mas nessas eleições esses 30% não apareceram. A esse respeito cabe uma análise mais profunda, na qual não saberia responder, pois são vários fatores, desde o antipetismo, a pandemia, a própria militância petista, dentro outros.
No mais, do jeito que está, as perspectivas não são animadoras para o futuro, pois logo após a eleição, o Ciro Gomes já disse que as eleições fora uma derrota do lulopetismo e do bolsonarismo, fomentando ainda mais a aversão ao Ciro da maioria petista. Tá complicado.
Abraços.