PUBLICADO EM 21 de ago de 2024
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O discurso e a prática de algumas empresas

O segmento empresarial costuma adotar alguns bordões para melhorar sua imagem junto à sociedade. Entre eles, podemos citar: “os trabalhadores são o nosso maior patrimônio”; “nós somos uma empresa socialmente responsável”; “tempo é dinheiro”, dentre outros. Infelizmente, essas peças publicitárias não refletem as reais práticas adotadas por algumas empresas do setor elétrico.

Por Eduardo Annunciato – Chicão

Ainda está bem vivo, na memória de milhões de consumidores que dependem da empresa italiana Enel, o caos de vários dias sem energia elétrica em São Paulo. O Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, representado pelo presidente Chicão, participou de audiências públicas, compareceu às CPIs na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal, e ainda deu inúmeras entrevistas, denunciando a falta de compromisso de várias empresas qua atuam no setor elétrico, além de apontar inúmeras falhas na regulamentação do setor, que, via de regra, penalizam os consumidores e os trabalhadores, visando assegurar os lucros das empresas.

Infelizmente, mesmo tendo sido duramente criticada pela sua ganância e pelo descaso com a sociedade, parece que a Enel não possui limites para encobrir suas falhas, limitações e atitudes, que contradizem os seus “princípios” organizacionais. O mais recente caso de falta de responsabilidade e de compromisso social está relacionado com a denúncia feita pelo Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, que ficou conhecida como Intervalo Térmico.

Imagine os eletricistas da Enel, que já são poucos para atender com qualidade os consumidores, e muitas vezes ainda têm que acompanhar os trabalhos das empresas terceirizadas, trabalhando em câmaras subterrâneas em temperaturas que chegam aos 70 graus – com luvas, botas, capacete, em um ambiente apertado, pouco ventilado e com a empresa pressionando para ser mais rápido. Os riscos à saúde e à vida destes valorosos trabalhadores são imensos.

Este tipo de trabalho é tão prejudicial à saúde, que existem leis para proteger o trabalhador, como por exemplo, a realização de um intervalo de descanso a cada 45 minutos trabalhados nestas condições precárias. Porém, a empresa não se preocupa com isso: ela apenas quer o trabalho realizado no menor tempo possível e com o menor custo.

O Sindicato, além de defender os interesses da categoria, tem consciência de que a energia elétrica é um direito da sociedade, algo essencial para a vida e para a economia do país. A partir deste compromisso com a vida e com a qualidade dos serviços prestados, o Sindicato acionou a Enel na Justiça do Trabalho.

Imediatamente, a Justiça do Trabalho determinou que fossem realizadas perícias em algumas câmaras subterrâneas apontadas pela entidade sindical; é curioso como o uso errado de um cachimbo entorta a boca, da mesma forma que uma empresa se dedica a acobertar falhas para não ser multada por práticas erradas.

Ao ser notificada do dia e da hora em que seriam realizadas as perícias, a Enel começou uma operação de jogar a sujeira para baixo do tapete. Ela destacou equipes de profissionais para que durante a noite anterior à visita do perito, ventilassem e resfriassem as galerias, inclusive desligando circuitos elétricos. Assim, a perícia não encontraria nenhuma irregularidade.

A estratégia não deu certo, pois um diretor do Sindicato compareceu ao local, conversou com os trabalhadores e filmou todas as atividades que estavam sendo realizadas a mando da empresa. Assim que o perito chegou ao local, este diretor apontou as irregularidades comprovadas com fotos e filmagens.

É certo que toda empresa tem de lucrar, mas não podemos admitir que este lucro seja obtido com a exposição de trabalhadores a riscos desnecessários, que não tenham seus direitos respeitados, que a sociedade não seja corretamente atendida e informada dos fatos com responsabilidade. Inúmeras empresas estrangeiras, que atuam no milionário setor elétrico nacional, dificultam, ao máximo, a ação sindical; qualquer melhoria no serviço prestado que gere custo, tem de ser aprovada pelo país onde está a empresa mãe.

Algumas empresas que atuam em São Paulo e alegam não ter total autonomia para gerir o negócio, dependendo de diretrizes e autorizações de fora, são: Enel, Elektro, ISA Cteep e EDP São Paulo.

No caso específico da Enel, é injustificável que, após o indecente apagão técnico, ainda tenhamos de conviver com um apagão ético da empresa, tudo para atender à pressão dos acionistas para aumentar o lucro.

Essa é mais uma constatação do descaso reinante no setor elétrico, que somente é levado ao conhecimento da sociedade através da ação firme de um Sindicato forte e responsável.

Eduardo Annunciato – Chicão
Presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia, Água e Meio Ambiente – FENATEMA e do Sindicato dos Eletricitários do Estado de São Paulo – STIEESP

Site – www.eletricitarios.org.br
Facebook – www.facebook.com/eduardo.chicao
Instagram – www.instagram.com/chicaooficialsp/

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