O movimento sindical brasileiro precisa urgentemente despertar do nocaute, voltar ao ringue e lutar pra valer para resgatar sua plena capacidade de representar e defender os trabalhadores. Ao longo dos anos, o movimento sindical deixou que o setor dominante retirasse os poderes que nós trabalhadores havíamos conquistado ainda na Era Vargas, há quase 80 anos.
Inadvertidamente, fizemos o jogo dos donos do poder e do capital. Aceitamos que era errado ter juízes classistas. Aceitamos que era politicamente correto flexibilizar direitos, por meio de vários mecanismos do “novo modelo” de produção do capital. Fomos cedendo, cedendo, até que levamos o golpe fatal.
Faz-se necessário compreender que ninguém cede poder de graça, principalmente quando somos a parte mais fraca do processo, como acontece na relação capital/ trabalho. Muitos dos nossos companheiros, mordidos pela mosca azul, acabaram sendo cooptados e ludibriados pelo poder. Aceitaram ceder, o que nos enfraqueceu e abriu a brecha para a derrota.
Agora, é preciso sacudir a poeira e retomar a luta com o aprendizado que as lições desta “derrota” nos trouxe.
A reforma trabalhista e sindical imposta no governo Temer criou um armadilha para o movimento. O atual modelo de custeio, baseado somente na autorização do trabalhador, permite que mesmo aqueles que não autorizarem os descontos se beneficiem, de graça, dos resultados das ações do sindicato. Ou seja, optando ou não por contribuir, os benefícios percebidos são os mesmos.
É como um restaurante em que se pode escolher pagar ou não a conta. Será que a maioria não vai querer comer e beber de graça?
Esse estado de coisas não pode continuar, pois é insustentável, tendo sido claramente planejado para matar aos poucos, por asfixia, o sindicalismo de classe e de luta. Não há como manter a representação por categoria com essa modalidade de arrecadação.
Sejamos pragmáticos. Temos duas saídas: ou voltaremos a ter a cobrança obrigatória, ou cairá por terra o atual modelo de representação. Gostemos ou não, teremos que acabar com as ilusões e partir para outro modelo, no qual só poderão se beneficiar do resultado das conquistas aqueles que estiverem dispostos a contribuir.
Diante disso, as lideranças máximas do movimento sindical têm que urgentemente convocar uma nova CONCLAT, para promover a transformação do sistema sindical, adaptando-o a nova realidade, para que possamos continuar a existir enquanto organizações de defesa dos trabalhadores.
Contribuir é o óbvio em qualquer lugar, menos em um País de “poderes” hipócritas e desonestos como o nosso, em que governantes, legisladores e juízes permitem uma injustiça como essa contra as entidades de defesa dos trabalhadores.
Será que na casa é servido almoço grátis?
Euzébio Pinto Neto, presidente da Federação Nacional dos Empregados em Postos e Serviços de Combustíveis e Derivados de Petróleo (FENEPOSPETRO)