Agora que o Ministério Público do Trabalho relacionou 25 mil denúncias de que empresas e órgãos públicos estariam expondo trabalhadores ao risco de contaminação pelo Covid-19, em matéria da Folha assinada por Fernanda Brigatti, os sindicatos ficam desafiados a fazerem um levantamento dos contaminados em suas bases e das mortes ocorridas.
O Sindmotoristas de São Paulo, dos motoristas e dos cobradores, já fez esse dever de casa. A Secretaria de Saúde do sindicato registrou 747 casos suspeitos, 208 confirmados e 52 mortes durante a pandemia.
Para os metalúrgicos a direção da CNTM enviou questionários a serem respondidos, com poucos resultados até agora.
Inúmeras outras categorias, com destaque para os trabalhadores da saúde, têm sido alvos macabros da doença: petroleiros de plataforma, trabalhadores em frigoríficos, açougueiros, entregadores com apps, motoboys e carteiros.
Não há informações sindicais confiáveis para os trabalhadores do comércio e dos variados serviços interpessoais que podem estar sendo vítimas da criminosa volta ao trabalho determinada por patrões irresponsáveis.
O levantamento criterioso desta realidade pelos sindicatos tem uma dupla utilidade. A primeira é demonstrar a letalidade da doença entre os que trabalham e reforçar a exigência de protocolos sanitários rígidos e controláveis. A segunda é aproximar obrigatoriamente as direções sindicais do dia a dia de suas bases, porque para a coleta e sistematização dos dados é preciso informação de primeira mão fornecida pelos trabalhadores em seus locais de trabalho.
Estas informações poderão também auxiliar os estudos epidemiológicos dos serviços de saúde que, pasmem (!) não registram sistematicamente as profissões exercidas pelos adoecidos e mortos.
Não se trata de um campeonato macabro, mas de demonstrar à sociedade os sacrifícios inauditos dos trabalhadores e a eles próprios que suas direções sindicais se preocupam pelo bem mais valioso que têm, a própria vida.
João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical