Estatísticas do IBGE indicam que apenas 48,5% da população brasileira em idade ativa têm hoje alguma ocupação. Isto significa que são mais de 50 milhões de trabalhadoras e trabalhadores desempregados, fenômeno agravado pela crise sanitária mas que já era sensível antes mesmo da pandemia em função da estagnação econômica.
A tragédia social traduzida friamente pelos números invade os lares de dezenas de milhões de famílias, condenando-as à pobreza e ao desespero. É o pano de fundo dos pedidos de auxílio emergencial (mais de 100 milhões) encaminhados ao governo, bem como das perigosas filas que se formam diante da Caixa Econômica Federal em busca do socorro.
Não há sinal de que a situação possa ser revertida no curso deste ano, apesar do temerário relaxamento do isolamento social. Até dezembro o PIB deve acumular a maior queda da nossa história. Alguns economistas projetam um tombo próximo de 10%. Dezenas de milhões de trabalhadores continuarão sem acesso a emprego, seja formal ou informal.
O comércio varejista nacional recuou 16,8% em abril frente a março. Foi a queda mais acentuada da série histórica iniciada em janeiro de 2001, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os investimentos caíram 27,5% no mesmo mês.
Neste cenário é imprescindível a prorrogação do auxílio emergencial de R$ 600,00 aprovado pelo Congresso Nacional. O tema já está em debate no Parlamento. Mas Jair Bolsonaro, cujo governo apresentou uma proposta inicial de um socorro no valor risível de R$ 200 reais, já fala em vetar alguma lei neste sentido, se eventualmente for aprovada pelos parlamentares.
A intenção maligna do líder da extrema direita (cujo ódio a trabalhadores, mulheres, índios, negros e pobres em geral, é notório) é justificada pelo surrado argumento de que o Estado não tem dinheiro e é preciso zelar pelo equilíbrio das contas públicas para evitar a falência do governo.
Não é verdade. Tanto não é que o Palácio do Planalto colocou à disposição dos bancos mais de R$ 1 trilhão e o rentista Paulo Guedes se vangloriou da façanha, supostamente destinada a prevenir uma crise financeira, embora o lucro dos bancos tenha somado R$ 81,5 bilhões no ano passado.
Em torno de R$ 30 milhões mensais, o custo do auxílio emergencial pode ser considerado desprezível frente ao socorro atribuído indevidamente aos banqueiros. Para a economia, seus efeitos são muito mais estimulantes e proveitosos, além de minorar o sofrimento popular.
Por estas razões, a CTB luta para que se efetive a prorrogação do auxílio, no mesmo valor de R$ 600,00 per capita, até dezembro deste ano. Trata-se de uma emergência humanitária para fazer frente à tragédia social do desemprego e prevenir a fome em massa e igualmente de um estímulo ao mercado interno e à economia neste momento crítico.
O que falta não é dinheiro. O governo tem inclusive como imprimi-lo sem maiores custos e sem riscos de inflação neste momento. Além disto, há a alternativa de ampliar o déficit público e a dívida ou impor um imposto extraordinário sobre grandes fortunas, como fez o Chile.
O que falta é vontade política do governo, que é totalmente subordinado aos interesses dos grandes capitalistas, conforme sugere a generosidade descabida com os bancos. Vejam que os ricos precisam, mas para eles de fato não falta dinheiro público.
Adilson Araújo
Presidente nacional da CTB