PUBLICADO EM 03 de fev de 2022
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Moïse: mais um trabalhador assassinado

No dia 10 de outubro de 1978 o trabalhador metalúrgico Nelson Pereira de Jesus, de 22 anos, foi assassinado a tiros em frente a fábrica em que trabalhava, a Metalúrgica Alfa, em São Paulo, pelo advogado da empresa porque foi cobrar “600 cruzeiros de horas extras não estavam incluídos nos pagamentos”.

Um ano depois, o metalúrgico Santo Dias, de 37 anos, foi assassinado enquanto participava de uma greve em frente à fábrica Sylvânia, em São Paulo.

Em janeiro de 1976 o metalúrgico da Metal Arte, SP, Manoel Fiel Filho, 49 anos, foi levado pelo DOI-CODI e morto sob tortura.

Em julho de 1917 o sapateiro José Martinez, de 21 anos, espanhol recém chegado ao Brasil, foi morto pela polícia de São Paulo quando participava de uma greve em frente à fábrica Mariângela.

Em janeiro de 2022 o congolês Moise Mugenyi de 24 anos, foi morto por espancamento no Rio de Janeiro porque foi cobrar pagamentos atrasados no quiosque Tropicália, em que prestava serviço.

Nelson era mineiro, branco. Santo era paulista de Terra Roxa, negro. Manoel, alagoano, branco. Martinez, espanhol, branco. Moise, congolês, negro.

Quando morreu Santo Dias, em 1979, a imprensa noticiou “Metalúrgico foi morto num piquete”.

Meses antes o próprio Santo Dias havia denunciado e protestado contra o assassinato do companheiro Nelson Pereira de Jesus.

Quando Martinez morreu a imprensa noticiou: “Morreu o sapateiro José Martinez” e não “A polícia matou o espanhol”.

Sobre o assassinato de Moise, entretanto, a imprensa destaca sua raça, sua nacionalidade, e sua condição de “refugiado” antes de sua condição de trabalhador.

É evidente que o forte racismo que existe no Brasil produz esse tipo de violência. E que a pobreza atinge de maneira desproporcional os negros, que são as principais vítimas das mazelas sociais.

Mas é evidente também que a sociedade está perdendo a capacidade de ter uma visão de classe trabalhadora e que a grande imprensa trabalha para aprofundar o dogma do individualismo, da alienação e da despolitização.

Cabe ao movimento social, especialmente o movimento sindical, não cair em armadilhas que nos dividem e enfraquecem a ação política. A esquerda e o movimento sindical deve enxergar o trabalhador como tal para lutar por ele com toda sua experiência e poder de mobilização.

 Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical

 

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