Não me sinto confortável ao criticar decisões coletivas das direções sindicais. E, no entanto, é preciso fazê-lo para alertar o movimento dos trabalhadores sobre os riscos de uma orientação errada.
Nove centrais sindicais representadas quase individualmente em uma reunião antecipada e apressada convocaram uma greve geral contra a deforma previdenciária. Seria correto se houvesse já uma preparação efetiva das bases sindicais – e mais que isso, uma exigência – para tal iniciativa.
Como as coisas se apresentam a determinação aventureira produzirá apenas muito barulho para nada ou calor sem luz, prejudicando na verdade todos aqueles que de maneira consequente já vinham fazendo o que deve ser feito: a resistência à aplicação da lei trabalhista celerada nas negociações salariais em curso e as manifestações pontuais de resistência à deforma previdenciária e o homem a homem com os parlamentares.
Com este casamento do porco com o cachorro, isto é, com a junção de um oportunismo condescendente com um radicalismo de fachada, o movimento pode ser levado neste fim de ano em que sofre fortes ataques coordenados dos adversários, a uma derrota desmoralizante, ou no máximo, a uma irrelevância preocupante.
Os verdadeiros amigos e apoiadores da luta sindical têm apontado as deficiências dessa convocatória e sua irresponsabilidade do tipo toma lá, dá cá.
O trio mentor da medida que conduziu ao seu bel prazer a reunião das centrais espera que a confusão instalada no Congresso Nacional o leve a adiar a votação da deforma, o que de um lado justificaria o efeito da pressão (pela preparação açodada da greve) e de outro justificaria a sua suspensão. Mas, e se não der certo?
Às grandes eloquências prejudicais continuo contrapondo o esforço unitário e agregatório da resistência pontual, organizando e mobilizando toda base e não submetendo o movimento a provas para as quais não se encontra preparado.
Não gosto – ninguém gosta – de ser enganado.
João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical