“Se calarem a voz dos profetas,
as pedras falarão
Se fecharem uns poucos caminhos
mil trilhas nascerão
Muito tempo não dura a verdade…
nestas margens estreitas demais:
Deus criou o infinito pra vida ser sempre mais!”
(do cancioneiro popular dos cristãos católicos)
Marielle viva falava para o Rio de Janeiro, com sua morte ela fala para o mundo.
Quem é Marielle?
Confesso que até ontem eu não sabia nada dela. Talvez tenha ouvido falar que foi uma das candidatas mais bem votadas para a Câmara de Vereadores da cidade do Rio de Janeiro.
Falava para favelados, para negros, para mulheres, para os pobres da cidade, da cidade, não, para os moradores das “comunidades”, o novo nome das favelas.
Falava para quem começava a ousar por o narizinho para fora da senzala, para quem começava a sonhar com um país sem preconceitos, sem oprimidos e, lógico, sem opressores. Uma sociedade em que a “vida seja sempre mais”. Um país em que o “pão da igualdade” fosse repartido e saboreado entre os que têm “fome e sede de justiça”.
Tentaram fechar-lhe a boca. Tiros certeiros abateram seu corpo. Parafraseando Camões podemos dizer que “um valor mais alto se alevanta”.
A voz de Marielle chega ao Planalto, ecoa na voz de um Ministro do STJ. Entidades como a OAB, organismos de defesa dos Direitos Humanos se manifestam. Nossa presidenta Dilma lança um protesto. Até o usurpador dá ordens para uma investigação profunda. O Ministro Extraordinário da Segurança coloca-se em campo.
Mas não é só. A imprensa de vários países repercute o fato. A ONU e outros organismos internacionais abrem os seus ouvidos e lançam suas vozes.
Vale retomar a pergunta inicial: quem é Marielle?
Dizer que ela é uma vereadora por um partido de esquerda, o PSOL, uma ativista dos Direitos Humanos, uma mulher negra que luta contra os preconceitos e a discriminação não responde plenamente a pergunta. Ela é mais que isto, é uma pessoa que luta por liberdade, por democracia por fraternidade (incluindo a sorocidade). Marielle é um símbolo. Um símbolo que ultrapassa sua pessoa, as pessoas de sua cor e de seu gênero pois ela vai “até o infinito para a vida ser sempre mais”.
Ela não é a primeira nem será a última. Faz parte de uma turma como Chico Mendes, Santo Dias, Manoel Fiel Filho, Padre Josimo, Irmã Dorothy, Frei Tito, Índio Marçal, Margarida Maria Alves, Padre João Bosco Penido Burnier, Galdino de Jesus, Herzog e tantos outros.
As mãos sujas de sangue não são de bandidos comuns. Quem fez o “serviço” conhecia o trabalho. Uma “nova Comissão da Verdade” oxalá não permitirá que o fio do novelo se arrebente.
A morte de Marielle não é uma morte qualquer do contrário não teria a repercussão que está tendo. Penso que tem gente que sabe de muitas coisas que nem a imprensa convencional nem as redes sociais estão publicando. Parece que algo como o envenenamento de um espião russo e sua filha lá na Inglaterra está acontecendo entre nós.
Geraldo Francisco Barbosa-Tchó, professor aposentado de técnicas agrícolas, Militante do Movimento de Trabalhadores Cristãos-MTC
Bernard Marcel Crochet
Excelente reflexão que merece ser aprofundada mais e com muita gente para chegar a ação.