A universalização do acesso à internet é bandeira defendida pela Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) e seus sindicatos filiados há bastante tempo. O tema integra o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” desde o seu lançamento em 2006, quando abordou a convergência digital nas telecomunicações e a necessidade de expansão da banda larga no País. A questão manteve-se entre nossas pautas prioritárias, inclusive sobre o viés da “internet pública”, conforme a edição do “Cresce Brasil” de 2016, que apontava o seu caráter de infraestrutura de interesse público, a exemplo do fornecimento de energia e saneamento básico.
Ou seja, está claro que é preciso universalizar o acesso de qualidade à internet e que o serviço precisa ser oferecido a toda a população por tarifas razoáveis, e não a preços exorbitantes. Isso se impõe tendo em vista a digitalização crescente e necessária de vários serviços públicos e privados, das possibilidades de educação e trabalho a distância, mas também pelo direito à cultura e ao lazer.
Tal realidade torna-se gritante no momento presente, em que o esforço de isolamento social para conter a pandemia do novo coronavírus exige que as atividades sejam realizadas a distância. E, no entanto, apesar de ser absolutamente essencial, o acesso à internet está longe de chegar a todos os brasileiros. Matéria da Folha de S. Paulo do sábado (16/5) informa que nada menos que 70 milhões de pessoas têm acesso precário ou sequer estão conectadas à rede mundial dos computadores. Essa situação se somou a outras falhas existentes para agravar, por exemplo, a imensa dificuldade de muitos para se credenciarem a receber o auxílio emergencial, o que gerou filas e perigosas aglomerações nas agências da Caixa Econômica Federal (CEF).
Isso porque, obviamente, o tema acompanha a desigualdade social no Brasil. Conforme também relata a matéria, têm menor poder aquisitivo os mais de 42 milhões que nunca acessaram a rede. Entre os conectados nas classes D e E, 85% utilizam a internet só pelo celular e com pacotes limitados. Essa parcela da população está excluída, por exemplo, das aulas a distância que as escolas fechadas pela quarentena estão oferecendo para que os alunos não fiquem sem atividade e conteúdo.
O quadro demonstra que precisamos correr para recuperar o prejuízo da falta de infraestrutura de internet no País ou pagar o preço de tornar ainda maior o abismo social já presente entre nós.
Isso é fundamental até porque, como já sinalizam especialistas e o próprio senso comum conclui, nada será como antes. Mesmo quando for seguro sair às ruas e reunir pessoas no mesmo ambiente, as atividades virtuais continuarão na nossa agenda. A praticidade, a economia de tempo e de recursos com deslocamento transferirão inúmeras iniciativas para o “online”. É imperioso, portanto, que todos possam participar. Acesso à internet significará, de forma definitiva, direito ao trabalho, à educação e à cidadania plena.
Murilo Pinheiro é Presidente do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo (Seesp)
e da Federação da categoria (FNE)