Desde 24 de janeiro não há um dia em que os jornais, em diversos textos, deixam de falar da condenação do ex-presidente Lula. Compreensível. É triste, mas, ao mesmo tempo, curioso. Entre tantas opiniões tem chamado a atenção a do jornalista Reinaldo Azevedo. Crítico ferrenho do PT e da esquerda, criador do termo “petralha”, Azevedo é um dos principais articulistas do campo conservador, de direita. Mesmo assim ele, logo ele, tem repetidamente alertado em seus textos sobre a falsidade do joguete jurídico que se armou em torno do ex-presidente. E, compreensivelmente, tradicionais blogs de esquerda têm repercutido e comemorado a opinião do jornalista. Claro que há ótimos articulistas progressistas falando sobre o assunto. Mas é bom quando alguém do lado de lá reconhece a injustiça feita do lado de cá. E ele tem levantado aspectos muito perigosos da Lava Jato, que podem, no limite, colocar toda a sociedade em risco.
Em um de seus textos ele afirmou que: “Moro escorrega e admite que sentença contra Lula não tem como base a denúncia do MPF”, em outro que: “(a) hipertrofia do MPF e do Judiciário (é) uma ameaça à democracia, que, por consequência, atinge também Lula e o PT”, e ainda, denunciou que: “O juiz Sérgio Moro, o nosso Galaaz, o Cavaleiro do Santo Grau, tem apartamento próprio em Curitiba, mas, mesmo assim, também recebe o auxílio-moradia? Sua inquieta mulher poderia dizer: “Moro com ele em nosso imóvel, mas recebemos a graninha”. Como é? Deltan Dallagnol, o implacável, recebe auxílio-moradia (4.377,73), auxílio-pré-escola (R$ 1.398) e auxílio-alimentação (R4 884,00)? O procurador-estrela também tem imóvel próprio. E mais de um. Comprou, por exemplo, dois apartamentos em Ponta Grossa que integram o Programa Minha Casa, Minha Vida. Um deles por R$ 80 mil. Outro, por R$ 76 mil. Como o dinheiro do auxílio-moradia não sai com carimbo, então ele integra a poupança do buliçoso-rapaz. Logo, o Estado brasileiro não paga a Dallagnol auxílio-moradia, mas auxílio-propriedade”.
Toda essa forma falsa, interesseira e tendenciosa de fazer polític… ops, “justiça”, me lembrou uma série que assisti recentemente no Netflix: The Confession Tapes. A série é composta por seis documentários sobre investigações de crimes em que policiais e advogados induziram pessoas a assumirem a culpa por crimes que, segundo a série, não cometeram. Aviso: contém spoiler. É bem macabro. Assisti o primeiro episódio confiante que, no fim, a justiça prevaleceria. Mas, que nada. Por mais recursos movidos contra a injustiça do judiciário, eles tiveram que cumprir (e ainda estão cumprindo) pesadas penas. Prisão perpétua. E neste tom segue toda a série. Confissões com base em contextos duvidosos, adquiridas de modo ilegal, perturbação mental e tortura psicológica com uma finalidade: mostrar para o público a “eficiência da justiça”.
Assim são os milhares casos de inocentes presos, com processos que se arrastam, ou pessoas executadas, onde a pena de morte é prática do estado, e que tem sua inocência provada depois.
Com isso, me pergunto, “ninguém está acima da Lei”? “A Lei é para todos”? A Lei é uma entidade divina ou são normas criadas por seres humanos políticos que vivem em sociedade e que tem interesses? No caso do Brasil a manobra jurídica para tirar Lula das eleições é evidente, rasteira, tosca e já era prevista. Até quando os ditadores da lava jato vão fazer do Brasil um tabuleiro de xadrez e permanecer com a máscara da neutralidade e do bom mocismo?
Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical
Veja o trailer da série Confession Tapes: