O governo do presidente Lula (PT) enfrenta cenário político e social marcado por desafios globais e pela oposição sistemática de forças políticas e econômicas que resistem à inclusão dos mais pobres no Orçamento público. Apesar disto, estratégia baseada no diálogo tem avançado na implementação da agenda nacional e internacional de inclusão social, promovendo Brasil mais justo.
Entre os principais desafios globais enfrentados pelo Brasil, destacam-se o extremismo político, a disrupção tecnológica e a crise climática. O extremismo político, com retórica polarizadora e ataques às instituições democráticas, ameaça a estabilidade política no Brasil e em diversas partes do mundo, enfraquecendo a confiança na democracia e aprofundando as divisões sociais.
A disrupção tecnológica, impulsionada pelo uso crescente de IA (inteligência artificial) e algoritmos, influencia de forma significativa a formação da opinião pública, ampliando a disseminação de desinformação e manipulando debates, o que exige governança tecnológica pautada pela ética e pela transparência. As mudanças climáticas representam desafio crítico, com consequências que vão desde a redução da produtividade agrícola até o aumento de desastres naturais, afetando de maneira significativa a economia e o meio ambiente.
No plano internacional, Lula tem se consolidado como liderança incontestável em defesa da democracia, da ciência, do meio ambiente e no combate à fome e às desigualdades socioeconômicas. Exemplo desse protagonismo é o recente acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que reforça a capacidade de o Brasil articular os interesses regionais em contexto global, ampliando a relevância do País no mundo.
Outros exemplos são resultados do G20, quando foi aprovada a taxação dos super-ricos — os supérrimos — e a Aliança Global Contra a Fome. Entretanto, a posse de Donald Trump, recentemente reeleito nos Estados Unidos da América, poderá ser ameaça à liderança do presidente Lula no plano global.
No ambiente interno, o governo enfrenta obstáculos à implementação da agenda política, econômica e social, dada as resistências às mudanças estruturais contempladas no programa sufragado nas urnas. Um desses obstáculos é a ganância de partidos conservadores, que consomem boa parte do Orçamento público ao priorizarem aumentos desproporcionais de emendas impositivas e dos fundos eleitorais e partidários, comprometendo investimentos em áreas essenciais para o desenvolvimento do País.
Outro exemplo, é a oposição radical de setores extremistas, que não aceitaram o resultado das urnas, promovendo campanhas de ódio, desinformação e violência contra as instituições democráticas, incluindo ameaças de morte ao presidente, ao vice e a ministros do Supremo.
Além das dificuldades impostas pela oposição no Congresso e pelos setores extremistas, o governo enfrenta boicote institucional de agentes estratégicos em posições-chave, como o Banco Central e as agências reguladoras. Muitos desses cargos foram ocupados por indicação do governo anterior, e seus titulares adotam postura deliberadamente adversária à agenda do governo do presidente Lula.
No Banco Central, a insistência em manter a taxa Selic em patamares elevados, mesmo diante de indicadores positivos como o crescimento do PIB, o aumento da geração de empregos formais e a estabilidade inflacionária, tem prejudicado a recuperação econômica e o equilíbrio fiscal. A alta taxa de juros encarece o crédito, desestimula o investimento produtivo e pressiona o endividamento das famílias, resultando em impactos diretos na qualidade de vida da população e no expansionismo econômico, que poderia ser mais robusto e inclusivo.
As agências reguladoras, por sua vez, exercem papel estratégico na regulação de setores fundamentais, como energia, telecomunicações e transportes. Contudo, algumas dessas promoveram reajustes tarifários que não se justificam do ponto de vista técnico ou econômico, prejudicando tanto os consumidores quanto as políticas públicas de ampliação de acesso e inclusão. Essa postura reflete não apenas visão desalinhada com as prioridades governamentais, mas também tentativa clara de minar a confiança popular nas ações do Executivo.
Esse comportamento de boicote institucional evidencia modelo de governança corporativa que prioriza os interesses de determinados setores econômicos em detrimento do bem-estar coletivo. No caso do Banco Central, ainda que a autonomia seja garantida por lei, a gestão atual tem utilizado esse instrumento para dificultar a execução de políticas de estímulo à economia.
Essa resistência, mais política do que técnica, contribui para fortalecer as desigualdades e alimentar percepção de que os benefícios do crescimento econômico não estão sendo amplamente compartilhados pela sociedade. Essa postura privilegia pequena elite econômica, comprometendo tanto o papel das instituições quanto a confiança popular no sistema econômico, e reforçando a exclusão de parcelas significativas da população nos frutos do progresso econômico.
Esse ambiente de confronto reflete disputa distributiva existente no País. Os setores empresariais, especialmente ligados ao agronegócio, ao sistema financeiro e aos beneficiários de isenções fiscais históricas, resistem à qualquer revisão de privilégios e atuam de maneira coordenada para manter essas vantagens. Esse cenário é amplificado por parte da grande mídia, que frequentemente adota postura crítica ao governo, reforçando narrativas intermediárias às mudanças estruturais.
Apesar dessas dificuldades, o governo obteve avanços notáveis. A ampliação de programas sociais, a recuperação de políticas de combate à fome e a retomada do crescimento econômico, com aumento do PIB, da geração de empregos formais e da renda, mostram que é possível avançar mesmo em ambiente hostil.
No entanto, para consolidar essas conquistas, será necessário aprofundar o enfrentamento das resistências estruturais, garantindo que os recursos públicos sejam destinados prioritariamente à redução das desigualdades e ao fortalecimento da infraestrutura econômica.
Os desafios enfrentados pelo governo Lula refletem a complexidade de o mundo em transformação. Superá-los exige coragem política, visão estratégica e compromisso com o diálogo como ferramenta de construção coletiva. Consolidar as conquistas obtidas e avançar na construção do Brasil mais justo, democrático e sustentável é essencial, não apenas para a estabilidade interna, mas também para oferecer modelo de governança inspirador em cenário global marcado por incertezas e desigualdades.
Antonio Augusto de Queiróz Jornalista, analista e consultor político, mestre em Políticas Públicas e Governo (FGV). Sócio-diretor da empresa “Consillium Soluções Institucionais e Governamentais”, ex-diretor de Documentação do Diap. Membro do Cdess (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável) da Presidência da República – Conselhão. Publicado, originalmente, na revista eletrônica Teoria&Debate, na coluna Café no Congresso.