O filme colombiano, Os Reis do Mundo (2022), dirigido por Laura Mora Ortega (Matar Jesus), tem como tema principal a perversidade do capitalismo sobre a juventude da classe trabalhadora. Em cartaz na Netflix o longa conta a saga de cinco adolescentes moradores de rua em Medellín, uma das maiores cidades da Colômbia.
Com roteiro de Laura e Maria Camila Arias, a trama mostra a dificuldade enfrentada pelos meninos analfabetos, sobrevivendo como podem na marginalidade, à base de pequenos delitos com todos os riscos das ruas de grandes cidades. Quando um deles recebe um documento do governo sobre um pedaço de terra deixada por sua avó. Essa terra transforma na utopia dos garotos como uma grande chance de mudar de vida.
Começa a peregrinação ao destino com os cinco amigos, Rá (Carlos Andrés Castañeda), Culebro (Davison Florez), Sere (Brahian Acevedo), Winny (Cristian Campaña) e Nano (Cristian David Duque), enfrentando todo o tipo de agressões pelo caminho.
Fica explícita a crueldade que se dá pela disputa da posse da terra na Colômbia e em todo o lugar, quando latifundiários se apossam de toda terra que encontram pelo caminho, sem medir esforços para anular qualquer resistência.
A transgressão se torna uma tática de sobrevivência para os adolescentes em um ambiente totalmente hostil desde a infância. Por isso, saem de casa para fugir da rudeza vivenciada onde falta tudo, de afeto à alimentação.
Sentem-se os reis do mundo ao supostamente não terem que dar satisfação a ninguém, mas a vida lhes cobra caro essa rebeldia. Os donos do poder são cruéis e a violência ronda o grupo. Nada que lhes impeça de sonhar em ter um canto só deles para tocar a vida.
O filme aponta a necessidade de um olhar sobre as pessoas que vivem do trabalho, seja no campo ou na cidade para ao menos diminuir a sofreguidão. E mais ainda de como é essencial cuidar das crianças e dos adolescentes para que haja possibilidade de mudança. Por mais clichê que isso pareça, não o é, porque “ao vivo é muito pior”, como canta Belchior (1946-2017), em Apenas um Rapaz Latino-Americano.
Toda a situação da Colômbia, agora pela primeira vez com um governo de esquerda, está em cena com a violência do narcotráfico, por muito tempo ancorado pelo Estado colombiano e a luta por terra, trabalho e pão de quem só conta com a sua força de trabalho, em meio a tanto desmando e opressão.
Pelo encadeamento do filme vislumbra-se a importância de políticas públicas para valorização da educação, da cultura, do esporte, da saúde e de tudo o que as pessoas precisam para viver bem. Afinal a juventude só quer levar a vida do seu jeito, em liberdade e sem medo.
Marcos Aurélio Ruy é jornalista