PUBLICADO EM 15 de fev de 2018
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FHC e Huck, a questão é o programa e não a televisão

Nas últimas semanas dois fatos chamaram a atenção:

1) O fato de Fernando Henrique Cardoso ter defendido abertamente a candidatura do apresentador Luciano Huck para a presidência da República;

2) Entre os dias 9 e 14 de fevereiro, pelo menos três artigos de articulistas do jornal Folha de São Paulo, que estão longe de ser de esquerda, “detonando” o fato de o ex-presidente defender abertamente a candidatura do apresentador.

No jornal de ontem, 14/02, o jornalista Elio Gaspari, afirmou que FHC aposta no suposto “novo”. Mas que, como em 1989, quando defendeu que Lima Duarte fosse candidato, este “novo” vem da televisão. Segundo ele, FHC buscou o “novo” na telinha acima de tudo para “ganhar a eleição”. Mais do que isso, tal atitude, demonstra um reconhecimento de que suas práticas políticas fracassaram. Gaspari avalia que “Quando saiu do MDB, acompanhando Mário Covas e Franco Montoro para livrar-se das práticas que o haviam contaminado, buscava algo novo e foi bem-sucedido”, mas que agora “O tucanato envelheceu, em vários sentidos”.

Dia 9, última sexta, o jornalista Reinaldo Azevedo escreveu que “é espantoso que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso esteja patrocinando a aventura Luciano Huck, ecoando essa patacoada de ‘nova política’”. Para ele, Huck, “ungido” por FHC, disputaria com outro candidato, “ungido” por Lula, caso Lula não dispute, em um “novo confronto entre Lula e FHC, ambos como candidatos virtuais, com seus respectivos bonecos de ventríloquo”.

Dos três artigos, o mais contundente foi o do sociólogo Marcelo Coelho, publicado também no jornal de ontem. Coelho, ao se referir a Fernando Henrique, usou palavras como: autoritarismo, arrogância, abuso patriarcal, falastrão.

Enquanto Gaspari e Azevedo, mesmo críticos a uma atitude pontual do ex-presidente, avaliaram que seus oito anos de governo tiveram qualidades como “a recuperação da credibilidade econômica do Brasil”, Coelho foi impiedoso. Para ele a “simpatia do ex-presidente pela candidatura de Luciano Huck desmascara o mito do estadista” e o aclamado Plano Real foi fundado em uma “demagogia do dólar barato”, como uma “aposta na possibilidade de renovar tecnologicamente nosso parque industrial” que “permitiram nossas compras de bebida importada e nossas viagens com cartão de crédito internacional”. O articulista afirma que FHC, que poderia contribuir com o debate sobre a reforma política, sobre a Previdência ou sobre os embates entre o Judiciário e os políticos, prefere chamar “os holofotes para elogiar Luciano Huck”.

O problema, penso, não é a televisão. Considero natural e até esperado que aqueles que trabalham com comunicação ou aqueles que se tornam “figuras públicas” se envolvam com a política institucional. Isso porque a relação com o “público” é política. Ter um candidato oriundo da televisão não é surpreendente. Nem é novo. O próprio Jean Wyllys, o engajado deputado do PSOL, ganhou notoriedade no reality show Big Brother Brasil. Sem falar de figuras midiáticas como Netinho de Paula, Romário e Ademir da Guia. A questão é qual o programa que Luciano Huck, se candidato, defenderá. Será ele o candidato da Rede Globo e, consequentemente, o candidato das elites? Sua pauta se sustentará na demagogia simplória de dar “esmola” aos pobres, enquanto, por outro lado, defende os interesses de “velhas” e poderosas empresas privadas? É nisso que devemos prestar a atenção. E, se isso se confirmar, é aí que deve residir a critica à postura do ex-presidente.

Com relação a ele, ao ex-presidente, mais estranho ainda é o fato de defender uma candidatura que até agora não está vinculada a nenhum partido político, quando em seu próprio partido, o PSDB, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, já se coloca como presidenciável. Sinal do enorme desgaste e divisão interna que o partido tem sofrido.

Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical

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