O Brasil ainda é um dos países mais desiguais do planeta. De acordo com o relatório do Laboratório das Desigualdades Mundiais (2021), realizado em colaboração por mais de cem pesquisadores de diversos países, somos o segundo país mais desigual entre os membros do G20 (atrás apenas da África do Sul).
Dados da ONU indicam que os 10% mais ricos do Brasil ganham mais da metade da renda nacional. A pandemia de Covid-19 foi um dos motivos para o aumento dessa concentração. O outro foi o governo Jair Bolsonaro, que encostou o corpo para a administração e se dedicou apenas à política, buscando a reeleição.
Em 2019, por exemplo, o 1% mais rico do nosso país detinha 46,9% da renda total. Em 2020, esse número subiu para 49,6% —quase a metade da renda nacional, portanto, foi para os mais ricos.
Caso o nosso país retome o ritmo de redução da desigualdade, como a que imprimiu de 2001 a 2014, seriam necessários pelo menos 30 anos para chegar ao mesmo indicador da Itália e Rússia, os países europeus mais desiguais. Para atingir o índice Gini da França seriam precisos 43 anos.
Mesmo que repetisse, por vários anos, o ritmo acelerado de 2022, maior queda de desigualdade da atual série, seriam necessários pelo menos três anos e dez meses para chegar no patamar da Argentina. O aumento de renda em 2022 foi motivado pelo reinício das atividades econômicas pós-pandemia, apesar da falta de ação do governo Bolsonaro.
Um livro recém-lançado na praça, “Os Ricos e os Pobres”, do sociólogo Marcelo Medeiros, relata a situação da população brasileira. O autor diz que “o topo é tão mais rico que o restante, mas tão mais rico, que é desigual até mesmo em relação às rendas mais altas. O 1% mais rico, por exemplo, é sete vezes mais rico que aqueles que estão no começo dos 10% mais ricos”. A obra traz ainda uma observação importante para reflexão, quando cita que “a concentração é tão grande que uma distribuição hipotética de metade da renda do 1% mais rico seria suficiente para quase dobrar a renda da metade mais pobre dos adultos”.
Já sabemos que o Brasil se caracteriza por uma grande massa homogênea de pessoas de renda baixa e de um grupo pequeno e bastante heterogêneo de pessoas muito mais ricas que as demais. Poucos têm muito, e muitos têm pouco.
Mudar esse cenário é uma responsabilidade que deve ser compartilhada por todos os setores da sociedade. E é uma necessidade urgente, levando-se em conta ainda as consequências nefastas levantadas por Medeiros. “A desigualdade extrema traz problemas de várias ordens: submete uma grande massa de pessoas a condições degradantes, questiona os fundamentos morais da sociedade e atrapalha o crescimento econômico”.
A busca pela necessária justiça social envolve um longo caminho. Um aspecto fundamental é o aumento da produtividade no trabalho, por meio da educação, que poderia gerar mais renda nas mãos de quem produz. Outros fatores importantes seriam a adoção de políticas governamentais que beneficiem os mais pobres, a revisão dos benefícios sociais menos eficientes e uma nova definição de pobreza.
Por Ricardo Patah é Formado em direito e administração, é presidente nacional da UGT (União Geral dos Trabalhadores)