Conforme aponta manifesto encabeçado por economistas de peso e extremamente respeitados, mantida a Selic no atual patamar muito acima do necessário, investimentos produtivos perderão espaço para a especulação, e o Brasil não voltará a crescer
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de manter a taxa básica de juros no País em 13,75% na primeira reunião do ano, realizada no início de fevereiro, jogou um balde de água fria sobre as expectativas de retomada do crescimento econômico. É óbvio que simplesmente reduzir a Selic não opera o milagre da prosperidade nacional, mas é condição absolutamente necessária para que se possa caminhar nesse sentido.
Defendida de forma dogmática pelos agentes do Banco Central, por porta-vozes de bancos e corretoras e por inúmeros comentaristas econômicos, a política de juros deve deixar o altar da suposta tecnocracia e ser objeto de um debate sério, honesto e democrático. Isso porque a questão interfere nos rumos do País e na vida de todos os brasileiros, não só daqueles que detêm aplicações financeiras.
Uma contribuição importante nesse sentido, e que precisa ganhar espaço no debate público, é o “Manifesto em favor do desenvolvimento do Brasil”, encabeçado pelos economistas Luiz Carlos Bresser-Pereira, Leda Paulani, Monica de Bolle, Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, Luciano Galvão Coutinho, Nelson Marconi, Antonio Corrêa de Lacerda, Clélio Campolina, Paulo Nogueira Batista Jr. e Lena Lavinas.
Conforme aponta o documento que nesta segunda-feira (13/2) já contava com a assinatura de mais de 2.500 profissionais do setor, uma taxa de juros razoável é indispensável para que haja normalidade econômica. “Sem isso, os investimentos perderão para as aplicações financeiras, e as remunerações do trabalho e da produção vão perder para a especulação”, afirma o texto.
O manifesto também põe por terra o argumento segundo o qual não há alternativa à manutenção dos juros elevados, tendo em vista a expectativa de alta da inflação. “Nenhum dos países dotados de recursos e economias estruturadas possui uma taxa de juros sequer próxima da que prevalece no Brasil e que o Banco Central pretende manter por longo período. E todos esses países reconheceram o caráter excepcionalíssimo do surto inflacionário recente, explicado pela pandemia e pelo conflito bélico, não por excesso de demanda.”
Ou seja, no Brasil aplicam-se dose cavalares do medicamento errado, correndo-se o risco de aniquilar o paciente, ao invés de curá-lo. Asfixiada pela taxa de juros que impede a expansão e amplia o endividamento, inclusive público, a sociedade não consegue superar a crise econômica. Conforme também apontam os economistas desenvolvimentistas, é preciso alcançar ganhos de produtividade e gerar empregos de qualidade para que se estabeleça um círculo virtuoso na economia. Ainda, há que se retomar as obras de infraestrutura, contribuindo com a criação de postos e aquecimento da economia, além de ampliar a oferta de serviços à população.
O documento destaca de forma muito pertinente a importância de se eliminar as amarras de uma política monetária inadequada para que a política econômica cumpra o seu papel real: “eliminação da pobreza, redução das desigualdades, preservação da natureza e sustentabilidade”.
A engenharia nacional, por meio do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, cuja edição mais recente terá lançamento no dia 6 de março, faz coro a essa posição. É mais que urgente baixar os juros e retomar em níveis desejáveis a atividade econômica para que se garantam condições dignas de vida ao conjunto da população. Cabe a toda a sociedade compreender o que está em jogo e participar desse debate.
Murilo Pinheiro é presidente do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo (Seesp) e da Federação Nacional da categoria (FNE)