PUBLICADO EM 05 de jan de 2019
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Do marcartismo ao onixismo

Temo que a caça as bruxas disparada pelo onixismo venha a se espraiar em toda a máquina pública e na sociedade.

De 1950 a 1957 os Estados Unidos escreveram uma das páginas mais vergonhosas de sua história. O presidente Truman, tinha iniciado a guerra fria e sua doutrina elegia combate ao comunismo em qualquer parte do mundo como sua grande missão. Essa doutrina foi a responsável pela guerra da Coreia e, mais tarde pela própria guerra do Vietnã onde os EUA sofreram a derrota mais vexaminosa de sua história.

Internamente, uma onda de histerismo se espraia pelo país, em parte movida pelo medo dos norte-americanos diante do fato de a União Soviética ter desenvolvido sua bomba de hidrogênio. Os EUA deixavam de ter o monopólio exclusivo da tecnologia nuclear para fins bélicos.

É nesse contexto que viceja a figura demagógica e populista do senador da Virgínia Joseph McCarthy, que manipula o medo e insegurança dos norte-americanos para patrocinar uma intensa caça às bruxas em quase todos os campos da sociedade. Milhares e milhares de pessoas foram acusadas de serem comunistas ou simpatizantes do comunismo e foram alvos de investigações e inquéritos absurdos.

Delatores recebiam recompensas financeiras para denunciar supostos comunistas. O macartismo tinha gerado a indústria da delação. Pessoas denunciavam vizinhos com os quais tinham alguma rixa, funcionários carreiristas denunciavam seus colegas de trabalho, muitas vezes por estar de olho em seu cargo. Sim, a delação era o caminho mais fácil e mais rápido para quem queria progredir no funcionalismo público.

Este processo abjeto levou à execução do Julius e Ethel Rosemberg em 1953, sob a suspeita de ter passado para os soviéticos informações sobre a tecnologia da bomba nuclear. Julius era espião soviético, mas de outra área. Jamais passou informações para os russos. Não havia provas contra eles, mas o processo contra os Rosemberg era uma importante peça política para alimentar o medo e o histerismo dos americanos. Trinta anos depois de sua execução o ex-presidente Nixon, que em 1953 era vice-presidente dos EUA, deu uma entrevista na qual admitiu que foram utilizadas “evidências contaminadas” contra Ethel que invalidariam sua condenação. De fato, ela nunca foi espiã soviética, ao contrário de seu marido que foi espião, mas não com relação a qualquer segredo nuclear.

O Macartismo fez várias vítimas. Entre elas Charlie Chaplin, Albert Einstein, J. Robert Oppenheimer ( pai da bomba atômica)e Edward U. Condon. O mundo artístico e o funcionalismo público foram os mais atingidos.

Hoje ao ver na televisão o chefe da Casa Civil, Onix Lorenzoni, anunciar que vai “despetizar o Estado” com a demissão em massa de funcionários filiados ou simpatizantes do Partido dos Trabalhadores, foi inescapável a comparação com o que aconteceu com os Estados Unidos nos anos 50.

Temo que a caça as bruxas disparada pelo onixismo venha a se espraiar em toda a máquina pública e na sociedade. Não demora muito e artistas deixarão de ter acesso a verbas públicas por causa de suas afinidades com o PT. Por aí, professores podem ser atingidos pelo histerismo bolsonariano. O próprio discurso do presidente no parlatório do Palácio do Planalto foi uma voz de comando para levar os “infiéis” para a fogueira da inquisição.

Não tenho dúvidas que assistiremos funcionários invejosos denunciando companheiros de trabalho, artistas medíocres acusando colegas talentosos. O presidente ainda não entendeu que a guerra acabou e que a hora é de conciliação, inclusive com a oposição, como sabiamente aconselhou o general Augusto Heleno.

Nas redes sociais bolsonaristas escorrem fel pela boca e querem ver sangue. Esse é o caldo de cultura para que a bajulação, a subserviência, o puxa-saquismo, o dedurismo prosperem.

Todo governo tem o direito de escolher seus auxiliares identificados com o pragrama consagrado pelas urnas. Mas isto não se dá por meio de caça às bruxas que primeiro demite para depois investigar a colação ideológica do servidor demitido.

Tibério Canuto Queiróz Portela, jornalista

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