Os professores decidiram: a greve nacional será em 15 de maio. Os estudantes deliberaram seguir juntos para denunciar os gravíssimos cortes na educação. Pais e avós apoiaram e foram às ruas para caminhar, cantar e dançar, com professores, filhos e netos, músicas de protesto. Os trabalhadores aderiram em solidariedade à luta dos professores e em apoio às bandeiras da luta dos estudantes, porque também são contra a destruição da educação.
Os estudantes, maioria nas manifestações de 15 de maio, rejuvenesceram o movimento com energia, rostos entusiasmados a cada encontro com outros que se juntavam à luta, entoando cantos de protestos. Professores, pais e avós, trabalhadores e apoiadores se fortaleceram com essa energia, o que estimulou ainda mais a mobilização.
O movimento veio às ruas em centenas de cidades para denunciar os graves cortes anunciados na educação por um governo que colocou na pasta um ministro que se confundiu – ou quis confundir – ao utilizar um ”exemplo didático“ para ilustrar o significado do contingenciamento de 30% na área, separando 3,5 chocolates de um total de 100! Ao vivo e a cores, para todo o país ver. O ministro tentou explicar ainda que contingenciamento não é corte, mas uma reserva para não gastar agora, mas, talvez, no futuro. O presidente da República brincou e, talvez também desconhecendo a diferença entre corte e contingenciamento, aproveitou para comer chocolate.
Passaram-se pouco mais de quatro, dos 48 meses de mandato do governo eleito. Nesse breve tempo, foram tomadas iniciativas e realizados vários anúncios para louvar a morte e iniciativas que podem abreviar vidas – flexibilização do porte de armas, tiros de helicópteros contra comunidades, preconização da morte de possíveis bandidos, silêncio diante do horror de centenas de tiros que têm matado inocentes, tentativa de barrar radares nas estradas. Nada para enfrentar o desemprego, a recessão, o baixo investimento. Nada!
A altivez de um povo se expressa na cultura e a soberania de uma nação se constrói com a elevação do patamar educacional da população. Um governo que corta gastos e investimentos em educação acaba com os fundamentos da nação e dilapida qualquer projeto de país.
Por isso, o movimento foi às ruas, para afirmar que a nação almeja um projeto de país. A mobilização é um sonoro não ao obscurantismo e às políticas que anunciam a morte. A mobilização afirma a esperança de quem luta pela vida. Mesmo com perplexidade, as manifestações anunciaram a resistência. Diante do horror, declararam o sentido da utopia e a tarefa de reconstruí-la. Diante das desigualdades, parte da população coloca-se em movimento para promover justiça e equidade.
Nas ruas, sempre nas ruas, as pessoas reunidas, caminhando, cantando, retomam, ainda que lentamente, o sentimento de nação. O despertar revela que o pesadelo é real, que o horror neoliberal está cumprindo a tarefa de desmantelar o Estado, de destruir as instituições e os instrumentos públicos de promoção do desenvolvimento econômico, vendendo estatais e serviços públicos, entregando reservas naturais, desmantelando a indústria nacional, reduzindo os direitos sociais à assistência. Bem, a lista é longa.
Nas ruas, será redescoberto que há outro caminho que promove desenvolvimento social e econômico, de forma justa, para todos. E, para mudar o rumo, a rua terá que ser ocupada inúmeras vezes.
O próximo grande encontro nas ruas tem data marcada: 14 de junho.
Clemente Ganz Lúcio é sociólogo e diretor técnico do Dieese