Há um sol que está mais perto, num dezembro de crise climática. Há crianças na praça, um metrô lotado de mulheres e homens embalados para as compras de final de ano; Há muitos que estão trabalhando e outros tantos com fome, há, no horizonte, um instante do Natal ultrapassado, pois, ultra mercantilizado, há sentimentos roubados.Existe um misto de festejo e indiferença, há crença e descrença, há um mundo em guerra e a face da terra está afundada, está rasgada pelo lucro. Há um surto, há mortandade e as ruas da cidade estão cheias de seres com os olhos nas telas, as suas próprias telas; Há pouca gente nas janelas.
Enquanto isso, a fábrica gira, o andaime sobe e, numa marcha de terceira, o condutor carrega outras dezenas; Há cultos, novenas, mesas brancas, há centros de matriz africana e há fogo na floresta, há enterros nos dias de festa.
Há roupas verdes, vermelhas, listradas, há calças novas rasgadas, pingentes, sacolas plásticas que nos dizem recicladas, há buracos na calçada e a idosa cai.
Vai a canoa, não vai nada, acosta no leito rachado, enquanto as encostas urbanas soterram outros trezentos que sofrem e sonham, sonham e sofrem, há um martírio enorme no capital, do capital, na capital que se morre!
Corre que lá vem “os tira”, se fores negro ele atira e, mesmo em dezembro, outro índio vai morrendo; Tô vendo a polícia privada, a farsa montada, o garimpo ilegal, … ”então é Natal” … “Morte e vida Severina”; É hora, agora, vai, corre pra cima, anima, se anima e passa por cima.
Quando tudo te parece meio louco é por que, pra eles, tudo tá funcionando; Agora vai andando, ver as cores nas lajotas, vai arrebentando portas, interfira no desenho, vai lutando, vai lendo e altere o que é visto, nesse dito dezembro; Agora vai vendo…
…Outro estupro acontecendo, outra escola metralhada, ultradireita, neo-esquerda, direita, um site de mutilação… Pára! Te organiza em movimento, é ponto de não retorno, é forma que, carcomida, é obra que barbariza e avisa pra onde vão.
Há um texto diferente, outro roteiro ao dezembro, há uma dor corroendo e sede de mutação, uma aflição consciente que vai empurrando agente a fazer Revolução. Há saída, há porta de alteração. Te organiza e vai desfazendo a vida, posto que, essa, está falida e podes tê-la fazendo, pois, afinal, é dezembro e esse mundo que estás vendo requer sua intervenção!
Que venha 2024!
Atnágoras Lopes, secretário executivo da CONLUTAS