As ameaças do novo governo se acirraram desde os discursos na posse dos presidentes dos bancos públicos, em 2019. As declarações indicavam que eles planejavam “selecionar” sua presença no mercado de crédito no País. Os planos do governo já incluíam encarecer os juros para a classe média – inclusive para financiamento imobiliário e agrícola -, avaliavam fechamento de agências e privatização de setores dos bancos.
O aumento da competição para gerar lucro, com os tão conhecidos “juros de mercado” também foram citados nos discursos dos presidentes, no ano passado, com o argumento de que ocorreram “distorções no crédito estatal” e, para repor esse dinheiro, ambas as instituições querem abrir o capital de seus negócios mais rentáveis.
Esse ano, no mês de junho, o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, defendeu a privatização do banco: “As pessoas imaginam que o Banco do Brasil seria comprado por um grande banco estrangeiro, por exemplo. Não é nada disso. O BB já tem 50% de suas ações em mãos privadas. É só vender mais um pouco e vira uma instituição privada”.
Outra evidência de privatização do governo foi a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, que provocou o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, na reunião ministerial do dia 22 de abril: “Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada e tem um liberal lá. Então tem que vender essa p… logo”, disse Guedes, segundo a transcrição feita pela Polícia Federal no INC (Instituto Nacional de Criminalística).
O desmonte dos bancos públicos já é uma realidade. Desde o início de 2016 o Banco do Brasil fechou 16,4 mil postos de trabalho e mais de mil agências bancárias. No mesmo período a Caixa fechou mais de 13 mil empregos no país.
O financiamento de grandes obras de infraestrutura (transporte, saneamento etc), por exemplo, é feito principalmente pelos bancos públicos. Abrir contas em larga escala, sem cobrar tarifas, com o objetivo de promover a inclusão bancária e social, é uma ação de bancos públicos. Mesmo quando são chamados a participar de ações conjuntas com o governo federal, os bancos privados têm iniciativa muito limitada; por exemplo, no Programa de Financiamento da Agricultura Familiar (Pronaf).
O que fundamenta as ações do governo para agir contra os bancos públicos é a visão de que o setor privado e o mercado podem resolver todos os problemas econômicos do país. Associado a essa visão liberal conservadora da economia está a sua total insensibilidade social: não importa o déficit habitacional, o desemprego, se jovens não têm acesso às universidades etc.
Os bancos públicos desempenham um papel fundamental na economia brasileira, pois são um importante instrumento de política econômica e de promoção ao desenvolvimento econômico e social. O crédito nos bancos públicos saiu de 33% do total em 2008 para mais de 55% em 2016 e desde então sua participação vem caindo chegando aos atuais 46,8% do crédito total, o que abre espaço para atuação dos bancos privados com juros mais altos e piores condições de crédito.
Qualquer estratégia de governo minimamente comprometida com os interesses da população brasileira deveria estar centrada no papel dos bancos públicos no financiamento da indústria nacional. É preciso aumentar o crédito para que o Brasil volte a crescer.
Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região