Para diminuir o frenesi e controlar o pânico é preciso articular o pensamento sobre a realidade como uma cebola, com suas várias camadas.
Há o coronavírus, pandemia nova, um pandemônio que atordoa o mundo todo e exige medidas preventivas e cautelas ponderadas. Em seguida há a crise financeira internacional e a guerra do petróleo que furam a bolha especulativa e encaminham um desarranjo severo das economias.
Há no Brasil, com uma economia travada desde sempre (pibinho de 1%) e com a equipe de Guedes insistindo na falsa higidez fiscal e na mágica das reformas, o derretimento da Bolsa e a divisão do campo conservador entre Zeina Latif (cortar gastos e fazer reformas) e Monica de Bolle (furar o teto de gastos e abandonar a mágica reformista).
Finalmente, como última camada da cebola (e a cebola não é um abacate que tem caroço duro) temos a crise criada por Bolsonaro e seus sequazes.
Durante alguns dias de maneira provocativa o presidente da República insistiu em radicalizar suas posições e obrigou muitos que não o apoiam a se encolherem em uma timidez tática. Predominou a lógica de uma confrontação de rua que alimentava o pior do bolsonarismo e desconcertava até mesmo a oposição.
Felizmente as centrais sindicais em sua última reunião começaram a prestar atenção no quadro complexo (as camadas da cebola) e, ainda que não tenham feito o que é exigido – a suspensão da manifestação programada para o dia 18 – criaram um “circuit breaker” ao determinar nova reunião para segunda-feira, dia 16.
Aprovaram também uma pauta emergencial de reivindicações em que avulta a exigência de gastos governamentais para enfrentar as crises e o empenho em encontrar saídas políticas que barrem o golpismo explícito do presidente.
Quando se descasca a cebola o cozinheiro pode até chorar, mas o tempero dela melhora o gosto da prudência e da unidade.
João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical