Por Alex Saratt
“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o oprimem” (Bertolt Brecht)
O episódio envolvendo o Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e a empresa G. Paniz precisa ser examinado dentro de um histórico e contexto amplo. As imagens proporcionam entendimento raso e distorcido sobre o conjunto de fatos e situações que resultaram em tensão e princípio de violência.
No conjunto é preciso registrar que as Federações Empresariais que se levantam em tom indignado são as mesmas que estimulam e incentivam práticas antitrabalhistas e antissindicais, notórias em suas defesas contra direitos consagrados ao trabalho e aos trabalhadores e trabalhadoras.
Estiveram na linha de frente do processo político que resultou no golpe contra uma Presidenta da República legitimamente eleita e que abriu as portas para a polarização política e a agressiva desregulamentação das legislações protetivas, dos quais as Reformas Trabalhista e da Previdência, a extinção do Ministério do Trabalho, a castração dos poderes do Ministério Público do Trabalho e a tentativa de aplicação da chamada “Carteira Verde Amarela” são os símbolos mais evidentes de sua ganância, insensibilidade e violência.
Nas questões políticas e eleitorais firmaram apoio à candidatura derrotada do ex-presidente Jair Bolsonaro, conhecido por seu discurso e prática de ataque e negação ao mundo do trabalho e ao sindicalismo classista, cuja repetição insistente de frases e bordões que contrapunham emprego a direitos, defendiam salários menores para as mulheres “porque engravidam”, desdenhando a proteção da infância e adolescência quanto do exploração do trabalho infantil e fazendo vista grossa aos casos de trabalho análogo à escravidão (aliás, situação que notabilizou o Rio Grande do Sul no último período) moldou o pensamento raso de um empresariado predatório e voraz.
No Rio Grande do Sul em particular comportaram-se as federações empresariais como verdadeiras “elites do atraso”, seja na histórica oposição e combate à reforma agrária e ao apoio à pequena propriedade rural, em favor da privataria que entrega e saqueia o patrimônio público, na defesa do congelamento salarial do funcionalismo público e na raivosa tentativa de reajuste zero e extinção do salário mínimo regional.
Portanto, as federações empresariais que por ora vociferam contra o Sindicato dos Metalúrgicos estão na base da orientação e comportamento das empresas e empresários que burlam, desrespeitam, agridem e constrangem de forma recorrente e reincidente. É o caso da metalúrgica G. Paniz.
A ação persecutória da direção da empresa e o sistemático desrespeito às demandas trabalhistas (PPR, CIPA) e à livre organização sindical vêm há mais de um ano sendo motivo de tratativas do Sindicato dos Metalúrgicos para resolução do problema. A intransigência da empresa e a intervenção equivocada e desorientada da Brigada Militar foram as causas reais do incidente, amplamente divulgado de modo distorcido e manipulado pela imprensa de ocasião, ansiosa em explorar uma narrativa comovida e acusatória contra quem definitivamente estava a defender os metalúrgicos e metalúrgicas como costumeiramente o faz nas diferentes jornadas de lutas, campanhas salariais, assembleias da categoria e prestações de serviços jurídicos.
Na condição de militante sindical que muito aprendeu com as lutas proletárias, “da classe que tudo produz”, presto minha total e irrestrita solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras, ao(s) seu(s) sindicato(s) e exulto as mudanças e melhorias que progressivamente vêm apontando para o rumo de um ciclo de retomadas, reconquistas e reconstruções que vão além de direitos sociais ou vantagens econômicas, mas da própria sociabilidade e do humanismo em si.
Alex Saratt, diretor de comunicação da CTB RS, dirigente do Cpers-Sindicato e da CNTE.