Não bastasse o menor número de inscritos desde 2005 para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com 3.109.762 de inscrições confirmadas, paira a suspeita de intromissão do presidente da República com censura a questões, consideradas “sensíveis”, de acordo com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, publicada nesta quarta-feira (17).
Segundo o Estadão, 24 questões foram retiradas da prova após uma “leitura crítica”, sendo que 11 delas foram vetadas. Servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), tiveram de imprimir a prova previamente em um procedimento jamais adotado.
Essa denúncia feita por servidores do Inep, responsável pela aplicação do Enem, é extremamente grave. Deve ser rigidamente investigada e se comprovada, o presidente Jair Bolsonaro pode responder por crime de responsabilidade.
Essa crise é a cara desse desgoverno que promove o desmonte da educação pública e tenta a todo custo impedir que a educação cumpra com o seu papel de disseminar o conhecimento e promover o necessário debate para a sociedade evoluir, se atualizar e caminhar para um futuro melhor.
Inclusive a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o Educafro e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) encaminharam uma Ação Civil Pública que pede “o imediato afastamento” de Danilo Dupas do cargo de presidente do Inep.
A ação se justifica pela suspeita de vazamento do conteúdo das provas em prejuízo da idoneidade do exame, já prejudicado pela dificuldade criada pelo desgoverno federal para a isenção da taxa de inscrição, no valor de R$ 85.
Além dos efeitos nefastos provocados pela falta de acesso à educação de mais de 5 milhões de estudantes durante a pandemia. Somados aos sucessivos cortes no orçamento do Ministério da Educação com uma gestão que trabalha pela privatização do ensino, prejudicando milhões de brasileiras e brasileiros em idade escolar.
Recentemente ocorreram 37 pedidos de exoneração de servidoras e servidores do Inep por causa das denúncias de interferência de Bolsonaro na formulação do Enem. No ano passado, a teimosia em adiar o exame causou a maior abstenção da história com 55% de estudantes ausentes da prova.
Agora a situação se agrava pela denúncia de censura e modulação do Enem aos interesses espúrios de um verdadeiro desgoverno, destruidor do Estado, das conquistas da classe trabalhadora e do povo brasileiro.
Por tudo o que se vê, o desgoverno Bolsonaro age para acabar com o Enem, que já foi o segundo maior processo seletivo para a entrada na universidade do mundo, perdendo somente para a China.
O Enem ainda se mantém como a mais importante porta de entrada das filhas e filhos da classe trabalhadora no ensino superior, mas corre o risco de retroceder para antes de 2009, ano em que foi transformado nesse grande processo seletivo para universidades de todo o país e até algumas do exterior.
A situação é muito grave. O aparelhamento ideológico pretendido pelo presidente é extremamente perigoso e pode aprofundar o foço da desigualdade educacional e social no país.
O Brasil está voltando a ser uma “república de bananas”. Temos quer por fim a esse desgoverno antes que ele destrua a nação brasileira de vez.
Toda solidariedade aos estudantes e suas famílias, que têm nos estudos a melhor chance de melhorar de vida. O país precisa de mais escolas, mais universidades, mais pesquisas, mais ciência para desenvolver o seu potencial e se transformar numa nação respeitada em todo o mundo, mais do que já foi alguns anos atrás.
Neste sábado (20), todo mundo para as ruas gritar contra o racismo e a plenos pulmões a palavra de ordem das marchas da consciência negra: Fora Bolsonaro Racista!
Professora Francisca é secretária de Assuntos Educacionais e Culturais do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), secretária de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE) e dirigente nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil. para desenvolver o seu potencial e se transformar numa nação respeitada em todo o mundo, como foi alguns anos atrás.
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