Tenho recebido consultas de trabalhadores, sindicatos, escritórios de contabilidade e até de RHs de empresas sobre como proceder se for necessário que os trabalhadores permaneçam em casa em razão do conoravirús (COVID-19).
O momento é complexo e a melhor atitude a se tomar numa situação dessas é utilizar o bom senso e a razoabilidade, considerando que nem o trabalhador e nem a empresa deram causa ao transtorno que estamos vivendo.
A Consolidação das Leis do Trabalho – CLT nos deixa algumas possibilidades legais para conduzir o assunto. Verifica-se que muitos empregadores estão apreensivos com a possibilidade real de seus empregados ficarem em casa por uma questão de saúde pública.
Creio que qualquer decisão do empregador no sentido de afastar o trabalhador devido às atuais circunstância implica em convocar o Sindicato da categoria para discutir sobre as possibilidades, evitando-se assim informações desencontradas entre o empregador e a entidade sindical representativa da categoria.
De todo modo, vejamos:
– A CLT, em seu art. 59, § 2º prevê a possibilidade de se implantar banco de horas, ocasião em que os trabalhadores não prestarão seus serviços por um determinado número de dias e não terão prejuízo quanto aos salários, entretanto, retornando ao trabalho, trabalharão duas horas extras diárias até compensar as horas que deixaram de trabalhar e nessa condição não receberão por essas duas horas. Por se tratar de um tema que envolve coletivos, setor ou setores da empresa deverá o banco de horas decorrer de negociação com o Sindicato da categoria para maior segurança jurídica.
– Temos ainda a possibilidade das férias coletivas previstas no art. 139 e 140, ambos do texto consolidado. Como o negociado prevalece sobre o legislado, poderiam as partes, mediante acordo coletivo, abolir a necessidade de pré-aviso de 15 dias ao Ministério da Economia e ao Sindicato.
– A reforma trabalhista de 2017, possibilitou a prestação de serviços do empregador fora das dependências da empresa com a utilização de tecnologia da informação. Para algumas atividades esse contrato pode ser adotado com sucesso pelas partes envolvidas. Sua previsão está no art. 75-A e seguintes, da CLT.
– Temos ainda a possibilidade de licença remunerada – sem previsão expressa na CLT, mas plenamente possível.
– Empregado adoecido terá a proteção previdenciária, percebendo o auxílio devido por lei.
Ressalto que a negociação coletiva exige a realização de assembleias dos trabalhadores envolvidos e que, obviamente seria um contrassenso reunir dezenas, centenas ou milhares de trabalhadores num único ambiente para deliberações. A sugestão é que se utilizem da tecnologia para deliberação do tema com os trabalhadores. As empresas possuem os contatos telefônicos dos trabalhadores e os passariam ao sindicato da categoria que ficaria encarregado
de, por exemplo, formar um grupo específico de WhatsApp para a comunicação dos atos e deliberações, se possível. Também os trabalhadores poderiam escolher uma comissão que ouviria internamente, na empresa, todos os trabalhadores e levaria a decisão para a entidade sindical. Enfim, temos que ser criativos e ponderados num momento de tanta apreensão.
Temos, por fim a previsão do art. 486, da CLT, a saber:
CLT .Art. 486 – No caso de paralisação temporária ou definitiva do trabalho, motivada por ato de autoridade municipal, estadual ou federal, ou pela promulgação de lei ou resolução que impossibilite a continuação da atividade, prevalecerá o pagamento da indenização, que ficará a cargo do governo responsável.
§ 1º – Sempre que o empregador invocar em sua defesa o preceito do presente artigo, o tribunal do trabalho competente notificará a pessoa de direito público apontada como responsável pela paralisação do trabalho, para que, no prazo de 30 (trinta) dias, alegue o que entender devido, passando a figurar no processo como chamada à autoria. (g.n)
§ 2º – Sempre que a parte interessada, firmada em documento hábil, invocar defesa baseada na disposição deste artigo e indicar qual o juiz competente, será ouvida a parte contrária, para, dentro de 3 (três) dias, falar sobre essa alegação.
§ 3º – Verificada qual a autoridade responsável, a Junta de Conciliação ou Juiz dar-se-á por incompetente, remetendo os autos ao Juiz Privativo da Fazenda, perante o qual correrá o feito nos termos previstos no processo comum.
No caso específico do COVID-19 não cremos que o Estado possa ser responsabilizado por eventual paralisação das atividades do empregador. Se trata de força maior. Assim, entendemos não haver sustentação acerca da aplicação do preceito supramencionado.
É muito importante que nesse momento de dificuldades e renúncias por parte de todos, que empregados e empregadores hajam com sensatez na busca de uma solução em consenso quanto aos problemas que surgirão dos reflexos da pandemia que afeta o planeta.
Cesar Augusto de Mello – consultor jurídico FORÇA SINDICAL, CNTQ, FEQUIMFAR, SindirefSP, Sinprescamp e SindiLuta
Cesar Augusto de Mello
Caro Daniel, entendo que você deva informar documentalmente o empregador acerca da sua condição e solicitar providências específicas no sentido de minimizar contatos com os demais colegas de trabalho, por ser tratar de problema crônico.
Cesar Augusto de Mello
O hajam com “h” significa existir e não agir de forma diferente…
Daniel
Prezado sindicato,
Trabalho na empresa GE OIL e Gás do Brasil que agora se chama Baker. Não só eu mais como o Brasil todo anda preocupado com esse coronavirus e a minha situação é o seguinte. Sou RENAL CRÔNICO e estou acompanhando quais são às pessoas que tem que tomar mais cuidados com esse coronavirus e minha situação se enquadra e a minha situação é uma das mais delicadas e não vejo a empresa procurar por essas pessoas dentro da empresa que não deve ser só a minha pessoa com doença Renal dentro da empresa.
Existe sim somente cartazes espalhados dizendo os cuidados com o coronavirus mais acho que eles deveriam preocurar essas pessoas dentro da empresa e da mais cuidados especiais.
João Nery Campanario
Excelente análise do grave momentos que vivemos, peço sua permissão para usar sua fundamentação.
João Campanario – Adv Força Sindical Nacional e diversos sindicatos.