Esclareço, de antemão, que de onde venho é comum essa variação nas palavras. Os mais velhos ainda hoje falam “bassoura” ou “almário”, portanto é “guspe” mesmo. Também aviso que não sou petista, tampouco tenho procuração do Partido dos Trabalhadores para fazer qualquer arrazoado, pró ou contra.
Mas como observador político me provoca uma ponta de desconforto e estupefação a nova modinha no campo de Esquerda: a ideia de que as candidaturas menos viáveis e competitivas renunciem em favor da melhor colocada eleitoralmente.
Não se trata de pecado, absurdo ou ilicitude, mas, convenhamos, é um método pra lá de torpe. A constatação de que a Esquerda corre risco de sair com uma derrota de proporções incalculáveis é um mote forte para indicar esse movimento tático impetuoso e quase desesperado, não o recrimino por completo. Porém, vamos e venhamos, não foi por falta de análise, aviso, apelo, que nos metemos nesse brete.
A conjuntura, os fatos, as correlações de força, etc, gritavam por, no mínimo, uma unidade das Esquerdas e, quiçá, uma amplitude que admitisse alianças com os setores políticos, sociais e partidários não convertidos ao Bolsonarismo.
Nem uma, muito menos outra. O preço a pagar é salgado: ou um acordo às pressas, desestruturando o que há ou uma derrota que é mais do que eleitoral, é também política e ideológica e organizativa. O povo nos ensina com a sua sabedoria peculiar: a dor ensina a gemer.
Não precisávamos chegar a esse ponto para compreender a força do fascismo e do neoliberalismo. Nem era necessário recorrer aos exemplos de Argentina, Bolívia e Chile, o bom senso e um pouquinho de Ciência Política, além de altruísmo, visão de conjunto e meta perspectiva já seriam suficientes.
A sofreguidão por qual se reivindica a unidade tardia, extemporânea e que beira ao caos impõe uma revisão de posturas que abandonem de uma vez por todas o voluntarismo, a subestimação dos inimigos e adversários, a superestimação das próprias forças, o hegemonismo, o particularismo, a disputa tola e infantil por ninharias, o oportunismo e a chantagem, a narrativa discursiva demagógica.
O caso de São Paulo (ou, em menor medida, do Rio) ilustram o fracasso a qual não podemos acusar o oponente (muito menos reclamar do povo).
Em vez do partido ou do cargo, a Nação e os trabalhadores, as mulheres, a juventude, a negritude, os excluídos, os desempregados, os famintos! Podemos até fazer a contorção política, ceder ao que era óbvio e não foi considerado, mas fica claro o nosso equívoco imperdoável e a difícil condição de constituir uma união “colada à guspe”! Que sirva de lição e que tomemos tenência, senão estaremos brincando de Brasil.
Alex Saratt é professor de História nas redes públicas municipal e estadual em Taquara/RS, vice-diretor do 32º núcleo do Cpers-Sindicato