Há pouco mais de um mês escrevi um texto abordando a falta de ação do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) no combate à pandemia do novo coronavírus, pois ao invés de se preocupar em cuidar das pessoas, o presidente segue mais preocupado em fazer disputas políticas.
Os desdobramentos desse jogo político e as ações desencadeadas a partir do avanço das investigações sobre os esquemas de financiamento e produção de fake news, que chegou a importantes nomes conhecidos pela defesa intransigente do bolsonarismo, demonstram que essas ações podem ser mesmo uma estratégia de Bolsonaro e seus apoiadores.
Promovem atos antidemocráticos, exibindo cartazes e faixas com pedidos de fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF) e até de intervenção militar, mas com Bolsonaro no poder!
Cabe lembrar que, no final de maio, em uma live, o deputado Eduardo Bolsonaro disse que uma ‘ruptura institucional’ era uma questão de tempo – fala que entra para uma série de declarações antidemocráticas feitas pelo filho 03 do presidente desde as eleições de 2018.
E para ampliar a visibilidade midiática e despertar a revolta e a indignação de quem defende as instituições constitucionais e a democracia, Bolsonaro marca presença em manifestações, ainda que contrariando os princípios democráticos do cargo e as recomendações das autoridades sanitárias em manter o distanciamento social devido à pandemia da Covid-19.
Diante desse cenário, assistimos no último domingo de maio (31) cenas de uma batalha na avenida Paulista, em São Paulo, não vistas desde as manifestações de junho de 2013. Torcedores de times rivais como São Paulo, Corinthians, Palmeiras, Santos, entre outros, se uniram em uma manifestação pacífica, em frente ao Masp, em defesa da democracia, contra o fascismo e o governo Bolsonaro.
Com a chegada da Tropa de Choque da Polícia Militar (PM), teve início um confronto com manifestantes do ato pró-democracia. Já em outro ponto da mesma avenida, em frente à Fiesp, grupos bolsonaristas que estavam lá para um ato antidemocrático e já tinham começado a dispersar voltaram a se concentrar sem serem incomodados pelos policiais.
Embora a PM seja subordinada ao governador tucano João Doria e as justificativas de que a corporação foi ao local para separar os dois grupos, ficou explícito que a polícia foi lá para proteger os bolsonaristas que, inclusive, atacavam o governo paulista. O governador está perdendo o controle sobre sua PM e isso é grave!
Em seu blog no portal UOL, o jornalista Ricardo Kotscho também observa que, neste caso, a PM tomou um lado que “não é segredo para ninguém nos órgãos de segurança que, desde a campanha eleitoral, policiais militares de todos os estados formam a base de apoio mais fiel a Bolsonaro”.
Também no portal UOL, outro jornalista e colunista, Leonardo Sakamoto, ao escrever sobre a manifestação do grupo bolsonarista em Brasília que foi para frente do STF com tochas acesas, analisa que a ação faz parte de uma estratégia para criar impacto midiático.
Já na Folha de S. Paulo, o repórter Igor Gielow, avalia em seu texto que essa confusão na Paulista é “tudo que Bolsonaro queria neste momento”, e mostra que o artigo 142 da Constituição, apontado pelo presidente como alternativa de um golpe, incita ainda mais os grupos bolsonaristas radicais a se voltar contra as instituições, tendo como foco principal agora o STF.
Dessa forma, notamos que, a cada dia, as ações promovidas pelos apoiadores do presidente e até mesmo por seu governo caminham para reforçar a tese bolsonaristas e assim justificar um golpe contra a nossa democracia.
Paralelamente, existem mais de 30 pedidos de impeachment de Bolsonaro na mesa do presidente da Câmara dos Deputados que julga não ser o momento de pautar nenhum deles. Tem ainda o inquérito que apura se houve ou não interferência do presidente da República na Polícia Federal.
O fato é que está na hora de dar um basta nessas ameaças de Bolsonaro, seus aliados e seguidores fanáticos. Não adianta, a cada polêmica ou fato novo provocado pela ação antidemocrática deles, as entidades soltarem notas de repúdio.
O povo espera uma ação concreta para o afastamento, não só de Bolsonaro, mas de seu vice, diante dos constantes ataques deste governo ao Estado Democrático de Direto, às instituições democráticas e aos vários crimes de responsabilidade apontados nos pedidos de impeachment.
Douglas Izzo
presidente da CUT São Paulo