Desde a segunda-feira (8), as professoras e professores da rede oficial do ensino do estado de São Paulo estão em uma greve sanitária em defesa da vida. Pela primeira vez na história, realizamos uma greve trabalhando com ensino remoto, ou seja, estamos em casa dando aulas online para que as crianças e jovens não parem de aprender.
Cientes de nossa responsabilidade com as futuras gerações e com a qualidade do ensino, deflagramos a greve em defesa da vida, vacina para todas e todos com prioridade para os profissionais da educação. Além de chamar a atenção sobre a necessidade de ampliação dos investimentos na educação pública e, neste momento, principalmente para proteger as crianças, jovens, profissionais na educação e toda a comunidade escolar da contaminação pelo coronavírus, que continua a tirar a vida de mais de mil pessoas todos os dias no país.
Em São Paulo, não é diferente. Observe os dados contidos neste link da Apeoesp sobre a contaminação de profissionais da educação no estado, mesmo antes do retorno às aulas presenciais dos estudantes. O secretário de Educação estadual, Rossieli Soares falta com a verdade ao afirmar que as escolas estão equipadas com todos nos protocolos necessários para a preservação de vidas. As escolas paulistas estão ao Deus-dará há muito tempo. Todos os pais que acompanham a vida escolar de seus filhos sabem disso muito bem.
Atente para o descaso com a vida de quem vive do trabalho
Por isso, a nossa reivindicação não é financeira neste momento. Queremos garantias de proteção da vida em todas as escolas. Queremos retomar as fundamentais aulas presenciais com todos os profissionais da educação vacinados. Várias escolas particulares estão retomando o ensino remoto por causa da contaminação da Covid-19. E mesmo assim o governador João Doria mantém as aulas presenciais para atender a vontade dos donos de escolas, que não correm risco nenhum, quem se arrisca são os profissionais e os estudantes.
A nossa greve vem crescendo dia a dia. A adesão dos profissionais aumenta, assim como o apoio da sociedade, que vai entendendo a necessidade desse movimento de resistência para não piorar a situação, já calamitosa. Precisamos cada vez mais de unir todos os envolvidos com a educação no estado para forçar o governo a recuar em sua intenção genocida e desrespeitosa à vida de toda a população, essencialmente aos mais pobres.
Tanto os profissionais da rede estadual como os profissionais de diversas redes municipais fazem essa greve histórica em defesa da vida e para salvar a educação pública das garras dos barões da educação. Os pais estão fazendo a sua parte, apoiando e não mandando os seus filhos para as aulas presenciais porque não existe mãe ou pai neste mundo que queira mandar seus filhos para a morte.
Então, “nos dias de hoje é bom que se proteja/Haja o que houver pense nos seus filhos”, como cantam Ivan Lins e Vítor Martins, na bela canção Cartomante. E complementa: “Não ande nos bares, esqueça os amigos/Não pare nas praças, não corra perigo/Porque na verdade eu te quero vivo/Tenha paciência, Deus está contigo/Deus está conosco até o pescoço”.
Resistir é preciso. Pense e lute por seus filhos. O país e o estado de São Paulo precisam combater a pandemia com inteligência, com ciência, fazendo o que for necessário para impedir a disseminação do coronavírus. É preciso o lockdown, mas com um auxílio emergencial para impedir que a fome mate ainda mais pessoas.
Porque para retomar todas as atividades é preciso vacinar ao menos 70% da população. Aí sim partirmos para um novo normal, um normal sem miséria, sem tanta desigualdade, com uma educação pública valorizada, com o Sistema Único de Saúde ampliado e melhorado, com taxação dos bilionários, que não pagam imposto no Brasil. Enfim, é preciso valorizar o serviço público, a ciência e a classe trabalhadora.
Francisca Rocha é secretária de Assuntos Educacionais e Culturais do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), secretária de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE) e dirigente da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil, seção São Paulo (CTB-SP).