Curiosa para saber os motivos que levam um eleitor a optar por votar em Jair Bolsonaro no segundo turno, fiz um pequeno teste hoje: perguntei a eles.
Perguntei em um grupo de Whatsapp, que sei que tem eleitores bolsonaristas, por qual motivo votam nele. Não tive respostas.
Perguntei para três pessoas no Facebook, que fizeram comentários ofensivos ao candidato Fernando Haddad em uma postagem minha, por que eles votam em Bolsonaro. Um deles respondeu com estas palavras: “Defendia o Bolsonaro por TODOS os desmandos praticados por vcs PETRALHA! Todas às roubalheira, todo o dinheiro roubado do BNDS E EMPRESTADO PARA OS AMIGOS COMUN
ISTAS DITADORES! E POR ÚLTIMO À PETROBRAS! AH E 14MILHÕES DE DESEMPREGADOS ESTÁ BOM? (…) E também por toda a cúpula PETRALHA estar em CANA!”. Perguntei novamente: “Mas, por que o Bolsonaro? O que ele apresenta de bom? Qual alternativa ele apresenta?”. Não obtive mais respostas.
Por último, e mais interessante, fiz a seguinte pergunta em um grupo de proteção aos animais no Facebook: “Alguém aqui sabe de algum gesto de Jair Bolsonaro favorável ou simpático aos animais?”. Recebi 255 comentários. Muitos deles em defesa do candidato Fernando Haddad. Mas, em cinco horas ninguém conseguiu apontar um gesto do candidato do PSL neste sentido.
Os comentários que surgiram, aliás, dizem muito sobre minha pergunta inicial: “o que leva um eleitor a optar por votar em Jair Bolsonaro”.
Selecionei os que são “publicáveis” (a transcrição está como os comentários foram feitos):
“Não estamos chamando petistas de cachorro com respeito aos cachorros eles não merecem ser ofendidos”;
“Eu sei q se o.pt ganha a população vai comer eles …gato cachorro papagaio…E.por ae…kkkk”;
“Os animais de vermelho serão extintos no plano de governo dele! Fiquem tranqüilos!”;
“Talvez não seja o melhor candidato, mas para detonar a esquerda que corrompe esse pais , já vale. Se não der certo a gente tira ! Espero”;
“A proposta dele é acabar com a corrupção e enterrar o PT, Já não está bom?”;
Perguntei novamente:
“Eu quero saber de propostas reais, saúde, economia, educação, meio ambiente…”.
A resposta que tive:
“Tá pedindo muita amiga, Ele não tem estrutura ainda! Como tinha a esquerda, quando dominou esse pais”.
As conclusões que chego são:
Em primeiro lugar, se o candidato do PSL apresentasse suas propostas para o país, sobre economia, saúde, educação, meio ambiente, e sobre assuntos específicos como é a causa animal, por exemplo, eu não teria esta curiosidade e deduziria que seus eleitores aderem à suas propostas. Mas a verdade é que ele priva a nós, eleitores, de ver e ouvir suas propostas serem submetidas ao debate e à opinião pública.
Em segundo lugar existe uma grande confusão sobre os governos do PT e sobre o comunismo. Isso é um embuste. O Partido dos Trabalhadores nunca foi comunista. E, ademais, mesmo os partidos comunistas que existem convivem constitucionalmente com todos os demais e obedecem às regras sociais vigentes. Vivemos em um país democrático (por enquanto) e capitalista. A ideia é que dentro desta democracia os trabalhadores tenham maior poder de consumo e que as empresas vendam mais. A ideia é que o Estado crie condições para que os mais pobres se insiram na economia (capitalista) e que, trabalhando e produzindo, gerem riqueza para o país. A ideia é que, com mais recursos financeiros e cognitivos as pessoas possam crescer e se desenvolver, e que possam, por exemplo, cuidar mais e melhor dos animais. E o “mercado pet” cresceu enormemente nos governos Lula e Dilma.
Em terceiro lugar, no discurso que proferiu assim que foi concluído o primeiro turno das eleições, Jair Bolsonaro disse com todas as letras “vamos botar um ponto final em todos os ativismos do Brasil”. Isso quer dizer que quando, por exemplo, a ativista Luisa Mell for para os portos protestar contra o embarque de animais vivos do Brasil para a Turquia ela será enquadrada no crime de “ativismo”. Porque, inclusive, com o apoio massivo de empresários que o candidato tem, ele não vai querer nenhum defensor da vida do gado atrapalhando os negócios de seus apoiadores e patrocinadores. Ou quando grupos de pessoas contra testes em animais se organizarem para resgatar cachorros e coelhos em laboratórios, eles serão também tipificados como “ativistas” e, provavelmente, incriminados.
Por último, me baseei na causa animal para esta pesquisa pois tenho engajamento e conhecimento sobre o assunto. Mas a pergunta poderia ser convertida à diversas outras causas. Poderíamos substituir “animais” na pergunta “Alguém aqui sabe de algum gesto de Jair Bolsonaro favorável ou simpático aos animais?” por mulheres, negros, índios, homossexuais, trabalhadores, empregadas domésticas etc etc. As respostas de seus apoiadores tergiversariam da mesma forma. Isso porque a triste verdade é que não há registro de gestos simpáticos e favoráveis de Jair Bolsonaro aos animais, mulheres, negros, índios, homossexuais, trabalhadores, empregadas domésticas etc etc.
Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical.