PUBLICADO EM 23 de out de 2024
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Colunista: Eduardo Annunciato Chicão

A sociedade precisa participar da política

Nunca é demais lembrar que, apesar da maioria das pessoas não se interessarem por falar de política, as nossas vidas são afetadas diretamente por ela. Impostos e taxas para pagar, falta de emprego digno, acesso difícil à boa educação, à bons serviços de saúde, falta de segurança e transporte público, violência, preconceitos, desigualdades sociais e direitos subtraídos, são alguns dos efeitos da baixa participação da sociedade nos espaços políticos.

É certo que a população sente todos estes efeitos e se revolta, com razão, entretanto, esta revolta nem sempre promove as necessárias ações para modificarmos a realidade que nos cerca e afeta de forma negativa. Na maioria das vezes criticamos a política e os políticos, enxergamos o voto apenas como uma forma de protesto legítimo, e não nos damos conta de que ao nos afastarmos do debate político e do voto consciente, apenas estamos fazendo o jogo daqueles que não querem que mudanças aconteçam.

O comportamento social, especialmente no campo político, de cidadãos com baixo acesso a informações verdadeiras e aversão à própria política é de desânimo e conformismo com os rumos desta política. E este sentimento de impotência é conveniente para não assumirmos que nos omitimos e que nossa opinião acaba sendo manipulada segundo os interesses daqueles que se beneficiam da má política. Para que votar se não vai mudar nada. Vou votar em um candidato que fala a verdade (?) Aquele candidato fala igual ao povo. Estas são algumas falas comuns na boca das pessoas politicamente mal informadas.

Quando a população não está acostumada a discutir política e analisar de forma crítica as posturas e propostas dos candidatos, dos partidos políticos e dos governos, ela acaba se tornando refém de discursos populistas, de fake news e, acaba formando uma opinião distorcida destes fatos e sobre a própria política. Neste estágio de desinformação a análise dos indivíduos acaba comprometida, pois ela se baseia mais em sentimentos e emoções do que no raciocínio crítico e lógico sobre o que é melhor para a sociedade.

É por isso que temos dificuldades em tolerar e participar de forma mais técnica na vida pública do País. A baixa participação popular na política é um campo fértil para a corrupção, para as agressões, para a violência, e, para o ingresso cada vez maior de pessoas despreparadas, desonestas e descompromissadas com o fortalecimento da democracia.

É muito mais fácil e agradável nos divertimos com socos, tapas e acusações entre políticos do que tentarmos analisar e identificar quais os reais interesses que estão em jogo. Não podemos esquecer que o comportamento social também é regulado por leis, e que são os políticos que elaboram e aprovam as leis; se ficarmos calados e imobilizados as leis dificilmente serão feitas para promover o bem-estar coletivo, limitando-se a possibilitar que apenas os grupos políticos mais “fortes” se beneficiem das políticas públicas.

O Brasil acaba de ir as urnas no primeiro turno das eleições de 2024 e ainda ecoam os memes e as risadas provocadas por nomes bizarros, por candidatos que não conseguem se expressar, que não têm propostas, por cadeirada, por acusações falsas e discursos que de forma clara atentam contra a democracia e contra os direitos básicos da população.

Inúmeros crimes eleitorais foram cometidos por diversos políticos e por seus partidos. Mas, a Justiça Eleitoral não atua com a esperada velocidade para coibir estas práticas, o que leva a sociedade a naturalizar a má política e passar pano para os maus políticos.

Porque são permitidas as candidaturas de “fichas sujas”? Porque as comissões de ética quase sempre se baseiam no corporativismo e não punem os políticos desonestos? Porque os desvios de recursos públicos não são punidos com cassação imediata e prisão até o ressarcimento dos valores desviados? Porque as redes socias são utilizadas para propagar mentiras e ataques ao Estado democrático de direito e não são punidas?

Neste contexto de alienação e de manipulação de informações o ataque aos adversários passou a ser lugar-comum, dada a impunidade dos autores destes ataques que, de forma hipócrita, falam em defesa da liberdade de expressão, mas, atacam a democracia e a população também modifica o seu comportamento em função da (des)informação.

A frase do autor americano Jonathan Haidt “Mentimos, trapaceamos e justificamos tão bem que passamos a acreditar honestamente que somos honestos”; retrata de forma clara o comportamento de boa parte da sociedade e de grande parte da classe política.

Na má política o imoral é sempre o outro, muitos acabam se convencendo de que a sua elevada posição ética é justificativa para dominar os demais, mesmo que através de atos violentos e mentirosos, que não têm nada a ver com a ética.

O grande desafio das pessoas e das instituições que lutam por uma sociedade mais justa é demonstrar que o comportamento social deve priorizar ações e políticas que não provoquem danos a terceiros, que priorizem as regras limpas no jogo político que efetivamente promovam a justiça social; isto demanda educação e cultura política da sociedade.

Do outro lado da mesa estão sentadas pessoas e entidades que baseiam suas ações em eixos mais fáceis de serem assimilados pelas pessoas, tais como, obediência cega, lealdade e defesa das ideias nas quais acredita e, subordinação da consciência crítica à valores religiosos.

Todos estes eixos, com os quais podemos concordar ou não, interferem na formatação da nossa consciência política e afetam nossos julgamentos, para o bem ou para o mal; o que devemos combater é o uso de estratégias de comunicação desonestas que apenas ludibriam a grande massa.

A má política lança mão de falar o que o povo que ouvir para seu benefício próprio, e não se preocupa em falar o que o povo precisa ouvir para que ele seja beneficiado.

Eduardo de Vasconcellos Correia Annunciato – Chicão
Presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo e da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia, Água e Meio Ambiente – FENATEMA e Vice-presidente da Força Sindical

Site – www.eletricitarios.org.br
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